O que são Calorias? Vale a pena contá-las?

Calorias ou kilocalorias?
Vamos começar por definir esta palavra de uso corrente mas pouco esclarecedora...
  • Quilocaloria (no valor energético dos alimentos), corresponde à quantidade de energia necessária para elevar a temperatura de 1 quilograma (equivalente a 1 litro) de água de 14,5 °C para 15,5 °C.
O correto seria utilizar kcal (quilocaloria), porém o uso constante em nutrição abreviou o termo.
Temos então que a caloria é o calor necessário para mudar a temperatura da água (mais precisamente de 1 litro de água) de 14,5 graus (celcius) para 15,5 graus.
Mas o que têm estas definições físicas a ver com as dietas, a alimentação e o exercício?
  • Para vivermos temos de nos movimentar certo?
Levantar, sentar, baixar, deitar, respirar, andar, comer, tudo é movimentação, viver é mexer e nesse movimento dispende-se energia. 
  • Onde vamos nós buscar essa energia? 
O nosso metabolismo converte os nutrientes dos alimentos em energia, energia essa que podemos ''contabilizar'' em calorias.
Tudo está ligado, comemos alimentos para poder produzir energia para nos movimentarmos...respiramos para ter oxigénio que é utilizado pelo nosso metabolismo (juntamente com outras moléculas) para queimar os tais nutrientes e produzir essa energia...por sua vez essa energia produzida é usada e esse uso pode ser medido em calorias para nossa facilidade de compreensão!
Simples? Sim e não...mas é mais ou menos isto.
Ao longo do nosso dia gastamos energia que corresponde a determinado número de calorias. Uma pessoa que trabalhe sentada num escritório gasta menos calorias do que um pedreiro ou um instrutor de ginásio.
Vejamos como o paradigma actual encara esta questão:
  • Se vamos buscar calorias aos alimentos,
  • Se é possível determinar a quantidade de calorias que gastamos num dia ‘’normal’’ da nossa atividade,
  • Então engordaremos ao comer mais calorias do que as que gastamos, 
  • E emagreceremos ao comer menos calorias do que as que gastamos.
Será o corpo assim tão matemático?
É este o consenso de muitos dos textos e opiniões popularizadas, mas infelizmente o nosso corpo não é assim tão simples de decifrar.
A caloria é simplesmente uma medida matemática usada para nos simplificar a vida, mas não traduz o que acontece no nosso metabolismo. As calorias não são todas iguais e diferentes alimentos têm diferentes respostas e efeitos químicos no nosso corpo e metabolismo.
Estas diferentes respostas prendem-se com a origem destas calorias, ou seja, de que nutrientes provêm.
Os alimentos contêm nutrientes e estes nutrientes têm diferentes valores calóricos:
  • 1 grama de proteína equivale a 4 kilocalorias,
  • 1 grama de carboidratos equivale a 4 kilocalorias, 
  • 1 grama de gordura equivale a 9 kilocalorias.
As gorduras têm maior valor que os carboidratos e as proteínas, mas o corpo não reage aos diferentes nutrientes da mesma forma:
  • A proteína tem funções importantes no nosso corpo e fornecer energia não é a principal, o corpo só utiliza a proteína como fonte de energia predominante no caso de carência de carboidratos ou de gordura,
  • Os carboidratos são a fonte de energia prefencial do nosso corpo, pois são mais acessíveis e fáceis de ''queimar'' (a molécula é menos complexa que a molécula de gordura, representa menor gasto de oxigénio na sua decomposição), 
  • Para usar os carboidratos o corpo liberta insulina, é esta hormona que leva a glucose (carboidratos decompostos) para ser transformada em energia ou em gordura (triglicerídeos), quando a mesma exceder as necessidades energéticas, 
  • Por isso se aconselha a consumirmos carboidratos de absorção lenta que nos permitem ter uma janela temporal maior para os ‘’queimarmos’’ e não deixarmos acumular sobre a forma de gordura no corpo (cereais integrais em vez de refinados, por exemplo),
Mas a questão que está a ser ignorada com esta simplificação é que as calorias da gordura não são vistas pelo nosso corpo da mesma maneira que as calorias dos carboidratos.
A gordura não estimula a produção de insulina e sem carboidratos em excesso ou de alta carga glicémica na nossa alimentação, o corpo terá que promover uma fonte alternativa de energia, acabando por se habituar a queimar a gordura que obtém dos alimentos e também aquela que tem armazenada no tecido adiposo.
Uma alimentação saudável tem de conter carboidratos, proteína e gordura, mas a questão é em que quantidades?
A resposta é individual e depende da regra de ouro:
  • Os resultados encontrados com o mesmo procedimento (neste caso alimentação) podem variar de pessoa para pessoa dada a sua idade, género, estado de saúde nutricional/mineral e vitamínico, historial de actividade física, genética (metabolismo e biotipo), exposição ao stress emocional/químico/térmico e de estilo de vida, bem como da sua atitude mental.
No entanto uma boa maneira de hierarquizar as calorias seria a seguinte (do melhor para o pior):
  • Calorias de vegetais, frutos secos e sementes, carne, peixe e ovos, são as que não engordam e saciam, 
  • Calorias de gorduras (manteiga, azeite, etc), fornecem os lípidos imprescindíveis para a nossa saúde e não estimulam a libertação de insulina, 
  • Calorias de leguminosas, moderadamente glicémicas, 
  • Calorias de frutas, com carboidratos de alto índice glicémico, mas com pouca concentração, 
  • Calorias de cereais integrais e tubérculos, já de alta carga glicémica mas preferíveis aos refinados, 
  • Calorias do leite, alimento feito para crescer e por esse motivo alto estimulador de insulina, 
  • Calorias de cereais e farinhas refinadas/brancas (trocar pelos integrais), 
  • Calorias de óleos refinados, puro veneno, 
  • Calorias de doces, bolos e refrigerantes, tudo o que contiver adicionado açúcar, o demónio da nossa alimentação, 
  • Calorias de alimentos processados, preservados ou conservados com químicos, pois independentemente dos nutrientes, são lixo.
Quanto mais basearmos a nossa alimentação nos primeiros alimentos, independentemente das calorias que ingerirmos, não teremos acumulação de gordura no nosso corpo.
Temos exemplos de povos guerreiros e caçadores (Masai, Ameríndios, Esquimós) que baseavam a sua alimentação em proteína e gordura (altamente calórica), mas cuja a incidência de doenças cardiovasculares na sua população é quase nula comparada com as nossas sociedades ocidentais onde imperam os alimentos livres de gordura, além de terem um corpo de guerreiro/caçador, magro e adaptado ao seu meio ambiente.
Contar calorias é insuficiente senão tivermos em conta a sua origem, pois os alimentos são percursores de um desempenho hormonal que tem que ser tido em conta.
Todos os macro nutrientes são importantes mas em diferentes quantidades e qualidades.