- Que os estudos não são conclusivos, apontando tanto para os efeitos antioxidantes dos componentes do café que previnem o stress oxidativo que está correlacionado com as doenças cardiovasculares, como para o aumento dos níveis das lipoproteínas que estão também correlacionadas com as mesmas doenças, entre outras contradições,
- Que a cafeína, em doses adequadas, pode contribuir para uma melhor performance física e mental, embora o seu efeito cause habituação e consequente aumento das doses, levando necessariamente (do ponto de vista da saúde) à sua descontinuidade de forma a podermo-nos desabituar e começar ''do zero'',
- Que além da cafeína o café é composto por fitoestrogénios, diterpenos e polifenóis, todos eles antioxidantes potentes que se suspeita terem um contributo muito positivo na prevenção de cancros, doenças neuro-degenerativas (alzheimer, etc), doenças hepáticas (cirrose) etc...
Mas a palavra café refere-se a uma bebida tão diversificada, seja na produção e torra dos seus grãos, como na sua preparação, que se torna necessário identificar os vários cafés e as diferentes consequências de cada um deles para a nossa saúde.
Existem vários tipos de grãos de café, os mais comercializados são o café arábica e o robusta.
O café arábica representa 75% da produção mundial, é mais conceituado, tido como sofisticado. O café robusta é mais amargo e tem menos sabor, mas é mais encorpado contendo maior quantidade de cafeína.
O café também pode ser dividido quanto ao seu teor de cafeína, com cafeína ou (quase) sem cafeína (descafeínado):
- Alguns médicos como o Dr. Chopra afirmam que alguma coisa no processo de ''descafeinização'' (que utiliza um solvente químico para retirar a cafeína), faz o café perder alguma da sua capacidade protetora de doenças hepáticas (cirrose),
- Visto haver outros compostos com cafeína (cacau, nozes kola, etc) que não têm esta capacidade, concluí-se que este efeito protetor do fígado nada tem a ver com a cafeína em si,
- Tirando isso, os outros benefícios mantêm-se, se bem que a cafeína é por si só um antioxidante, embora também uma substância psicoactiva que traz outros efeitos secundários.
- A decocção é a acção de ferver os grãos, a fim de lhes extrair os princípios ativos. No fundo trata-se de cozer os grãos até a água ferver e depois separar os compostos sólidos da bebida (filtrando), ou deixá-los assentar no fundo, o que se torna mais fácil quando os grãos são moídos até ficarem muito pequenos. Este tipo de preparação do café é o mais tradicional e foi usado no mundo inteiro antes de se inventarem equipamentos específicos para o fazer,
- Na infusão a água é fervida e só depois os grãos torrados são embebidos no líquido. Dependendo do utensílio e da fineza dos grãos, os compostos sólidos são filtrados e separados da bebida,
- Água fervida e aplicada sob pressão nos grãos dá origem ao café que conhecemos como expresso, entre outros e é outra técnica de preparação.
No entanto, o nosso objetivo é a análise das alterações na composição da bebida em si (após a sua preparação), e quais as suas implicações para a nossa saúde.
De uma forma geral, quanto menor contato com a água os grãos tiverem e mais filtrada for a bebida, menos fitoestrogénios, diterpenos, polifenóis e cafeína teremos com todos os seus efeitos benéficos (e também nocivos) referidos no post anterior.
Isto significa que quanto mais modernizada e complexa a preparação do café se torna, menos benefícios tiramos dele:
- Um exemplo claro é o do café solúvel (instantâneo), feito através da concentração e desidratação do café líquido que afeta os ingredientes do mesmo, de forma a facilitar o seu transporte e durar meses nas prateleiras dos supermercados. O resultado é um pó com menos quantidades dos compostos já referidos e portanto menor propriedade antioxidante, menos café, mais lucro e menos saúde!
- O descafeínado é outro exemplo, sofrendo um processo em que são utilizados solventes químicos, resultando numa bebida quase sem cafeína (que também tem as suas propriedades antioxidantes) e sem alguns dos seus potenciais benefícios,
- A somar a isto temos o açúcar que já vem nalguns preparados solúveis ou que adicionamos posteriormente e este sim, é um veneno para a saúde.
- Adicionar uma pitada de canela...uma especiaria que traz sabor e mais antioxidantes ao nosso café,
- Tomar o café com uma pequena refeição ou após uma refeição, pois o café estimula a libertação das catecolaminas (hormonas do stress), que por sua vez podem estimular a libertação de cortisol, terminando numa libertação de insulina. Todo este processo tem como culminar uma possível descida do nível de açúcar no sangue e consequente aumento da sensação de fome (sugar cravings). Ao incluirmos alimentos com a nossa bebida este possível efeito não terá o mesmo desfecho,
- Adicionar manteiga irá juntar os benefícios das gorduras saturadas, vitaminas e todo um conjunto de nutrientes que irá suavizar e tornar o nosso café mais cremoso. Se acham que a gordura faz mal leiam o post: ''Lípidos gorduras e colesterol (parte 1)'' e descubram uma nova maneira de encarar as gorduras,
- Outra opção é adicionar óleo de coco, também rico em gorduras saturadas e toda uma panóplia de nutrientes. A gordura adicionada vai mais uma vez suavizar a textura e sabor do café,
- Cacau sem açúcar também pode ser uma boa opção, contém cafeína e mais compostos que vão reforçar o efeito antioxidante, além de melhorarem o seu sabor.
Sendo o café um dos produtos ou mercadoria mais comercializados do mundo, podemos concluir que os lucros gerados são imensos.
Alguns dos problemas da produção intensiva do café são:
- Impacto humano, estes lucros não são distribuídos por quem os produz, por quem dá o litro e por quem ''mete as mãos na terra''. À semelhança de outros bens (roupa, calçado, etc) os produtores recebem uma miséria e ainda se vêm obrigados a baixar os seus preços com o aumento da competição ou outras exigências do mercado, o que na prática se traduz numa vida de exploração e submissão às grandes cadeias que detém o monopólio da sua produção e venda e controlam a forma como isto se processa, o que nem sempre é transparente e por vezes bastante complexo,
- Impacto animal, tradicionalmente os grãos de café eram cultivados sobre uma cobertura florestal, sendo estas um importante habitat para toda uma flora e fauna lá existente. Hoje em dia com a intensificação da produção as florestas são derrubadas para os cafeeiros serem cultivados no que se chama ''cultivação solar'', onde são utilizados fertilizantes químicos em detrimento da sustentabilidade dos métodos de produção tradicionais,
- Impacto ambiental, o aumento da competição provocado pelo desejo de mais países em desenvolvimento (na zona tropical) quererem uma fatia deste comércio, bem como um aumento da procura, faz com que mais países optem pela monocultura do café, pelo derrubamento das suas florestas para o método de cultivação solar, bem como toda a intensificação de forma a aumentar a produção para satisfazer as exigências do mercado. Países nesta zona tropical que têm as maiores taxas de florestação são também os maiores produtores de café, facto que está correlacionado.