Esta resposta é uma adaptação ao stress decorrente do aumento de tensão exercida no tecido muscular e a musculação é a forma mais eficiente de a obter.
A maneira como a hipertrofia ocorre não está bem explicada mas sabemos que o crescimento muscular deriva do aumento do diâmetro das fibras musculares.
A criação de novas fibras musculares (hiperplasia) não está comprovada nos seres humanos (existem estudos animais que indicam que ocorre), mas mesmo que seja uma realidade, não será o factor principal a desencadear o crescimento muscular..
As fibras musculares são compostas por:
- Miofibrilas, que são os motores das fibras musculares constituídos por proteínas contractéis que fazem as fibras contraírem e são directamente responsáveis pela criação do que percepcionamos como força muscular,
- Sarcoplasma, nome que se dá ao espaço intracelular (das células musculares), preenchido por uma matéria coloidal e semi-fluida denominada citosol (composto por água, sais e moléculas orgânicas). No citosol estão suspensas partículas insolúveis (denominadas de inclusões) e estruturas delimitadas por membranas, colectivamente conhecidas por organelas (glicossoma, mioglobina, enzimas proteicas, mitocôndrias, retículo sarcoplasmático, etc).
As miofibrilas ocupam a maior parte do
espaço das fibras musculares e sabe-se que quando ocorre hipertrofia estas crescem e multiplicam-se, ao mesmo tempo que o sarcoplasma se expande, resultando num aumento de força e volume muscular.
- Mas será que as duas crescem ao mesmo ritmo e se mantém esta proporção?
- Ou será que diferentes tipos de estímulos (treinos) podem provocar a predominância no crescimento de uma ou de outra?
Se as miofibrilas são responsáveis pela força e se houver um crescimento baseado mais no aumento destas do que de sarcoplasma, em teoria deveria haver mais ganhos de força do que se ocorresse o inverso (maior aumento do sarcoplasma).
O maior contributo para esta ideia foi dado pelo Dr. William Kraemer e Dr. Vladimir Zatsiorsky, autores do livro ''The Science and Practice of Strength Training''.
O maior contributo para esta ideia foi dado pelo Dr. William Kraemer e Dr. Vladimir Zatsiorsky, autores do livro ''The Science and Practice of Strength Training''.
Nele foi apresentada a noção de hipertrofia sarcoplasmática e hipertrofia miofibrilar:
- Na hipertrofia miofibrilar dá-se maior crescimento e multiplicação das miofibrilas,
- Na hipertrofia sarcoplasmática ocorre uma maior expansão do sarcoplasma,
Um dos exemplos frequentemente utilizados para justificar ou legitimar este conceito de diferentes tipos de hipertrofia é o dos fisioculturistas (bodybuilders) VS atletas de força/halterofilistas (weightlifters/powerlifters).
Os fisioculturistas são, em termos de volume muscular, maiores que os halterofilistas, no entanto podem não chegar a levantar metade do peso que estes levantam em exercícios de força explosiva ou máxima como o agachamento, peso morto ou supino plano.
Os fisioculturistas são, em termos de volume muscular, maiores que os halterofilistas, no entanto podem não chegar a levantar metade do peso que estes levantam em exercícios de força explosiva ou máxima como o agachamento, peso morto ou supino plano.
Esta teoria explica isto dizendo que os treinos que
utilizam cargas pesadas (típico dos atletas de força) adicionam mais
proteínas contrácteis (hipertrofia miofibrilar) e por isso geram maiores
ganhos de força do que propriamente volume, enquanto que os treinos que utilizam cargas menos pesadas e mais repetições (típico dos fisioculturistas) expandem mais o sarcoplasma do que adicionam proteínas contrácteis (hipertrofia
sarcoplasmática), resultando assim num maior
volume muscular que não é acompanhado pela força expectável.
Daí o maior tamanho mas menor força dos fisioculturistas em comparação com os atletas de força.
Argumentos contra a teoria da hipertrofia miofibrilar VS sarcoplasmática
- A força tem uma componente técnica que a acompanha e a metodologia de treino destes atletas privilegia o uso de poucas repetições com cargas muito elevadas de forma a mecanizar o movimento e a favorecer a economia de energia, enquanto que os métodos de treino dos fisioculturistas usam maior número de repetições com cargas mais moderadas de forma a estimular o crescimento muscular,
- Quando culturistas se dedicam a desportos de força como o powerlifting (mudando o seu método de treino e adquirindo a técnica e mecânica que permitam o manejar de cargas elevadas), regra geral, têm bons resultados e por vezes chegam a quebrar recordes nessas modalidades, o que prova que a aparente desproporcionalidade entre o volume muscular e a força dos culturistas não tem que estar obrigatoriamente ligada à teoria da hipertrofia sarcoplasmática,
- Num estudo realizado verificou-se que os treinos dos atletas de força traziam mais ganhos de força explosiva e força máxima, mas que para ganhos de força isométrica (máximo de força e tensão sem a utilização de resistências, aparelhos ou cargas) não havia diferenças significativas entre o treino com cargas pesadas e o treino com cargas leves. Isto sugere que o treino com cargas leves adiciona proteínas contrácteis tão eficazmente como o de cargas pesadas, apenas não é o mais aconselhado se o objectivo for utilizar essas cargas de forma explosiva ou máxima.
Estas refutações não invalidam a possível existência da hipertrofia sarcoplasmática, pois embora existam vários factores passíveis de explicar a diferença entre tamanho e força, não significa que esta não exista de todo.
Argumentos a favor da teoria da hipertrofia miofibrilar VS sarcoplasmática
Greg Nuckols, autor do texto ''Sarcoplasmic Hypertrophy: The Bros Were Probably Right'', descreve um estudo onde se mediram e compararam as forças máximas das seguintes 3 populações:
ConclusãoArgumentos a favor da teoria da hipertrofia miofibrilar VS sarcoplasmática
Greg Nuckols, autor do texto ''Sarcoplasmic Hypertrophy: The Bros Were Probably Right'', descreve um estudo onde se mediram e compararam as forças máximas das seguintes 3 populações:
- Pessoas que não treinam e cujas fibras musculares tinham menor diâmetro,
- Fisioculturistas que detinham as fibras musculares com maior diâmetro,
- Atletas de força que se situavam entre os dois grupos anteriores no que diz respeito ao diâmetro das fibras musculares.
Como seria de esperar os valores totais de força foram maiores para os atletas de força, seguidos dos fisioculturistas e por último das pessoas que não treinam.
Estranhamente os valores de força máxima dos fisioculturistas e das pessoas que não treinam eram quase idênticos relativamente ao diâmetro da sua fibra muscular.
Ficou
assim claro que quem tinha valores anormalmente altos eram os atletas
de força, que conseguiam recrutar mais força do que seria expectável dado o diâmetro da sua fibra muscular.
Qual a explicação para esta prestação acima da média por parte destes atletas?
- Serão os treinos destes atletas, focados no levantamento de cargas máximas, geradores de melhor técnica e forma e criadores de uma mecânica de movimento que por sua vez origina melhor prestação nas provas de força, mesmo tendo menor musculatura que os fisioculturistas?
- Ou será que pessoas com uma força anormal, proveniente de um melhor recrutamento muscular e impulsos nervosos mais fortes, naturalmente enveredam e triunfam nestes desportos, e portanto têm uma vantagem genética que lhes permite gerar mais força mesmo quando comparados com fisioculturistas de maior volume muscular?
- E será que a hipertrofia como a normalmente compreendemos corresponde mais ao aumento do conteúdo do citosol (hipertrofia sarcoplasmática) do que ao aumento das proteínas contrácteis da miofibrila (hipertrofia miofibrilar) gerando assim maiores ganhos musculares do que propriamente força?
- Será que hipertrofia miofibrilar é algo mais anormal ou difícil de acontecer, talvez motivada por um factor de predisposição genética referido anteriormente?
Também é possível.
A
maior parte dos estudos indica que a força dos fisioculturistas é semelhante (ou ligeiramente inferior) à das pessoas que não treinam
(relativamente ao diâmetro da fibra muscular), isto vai de acordo com a observação de que a relação da força com o tamanho prende-se com o diâmetro da fibra muscular e que esta correlação é negativa, ou seja, a força diminui com o aumento do diâmetro da fibra em termos relativos.
Por
outras palavras, à medida que o diâmetro das minhas fibras musculares
aumenta, a minha força também aumenta mas em menor proporção.
O melhor desempenho obtido pelos atletas de força pode ser uma excepção que indica que a sua metodologia de treino maximiza essa dinâmica preservando a relação entre força e diâmetro da fibra muscular, enquanto
que o tipo de treino dos fisioculturistas aparenta manter a tendência
para uma tensão específica que diminui com o aumento do diâmetro das
fibras musculares.
- Significa isto que a hipertrofia muscular é feita, de uma forma geral, através de uma maior expansão do sarcoplasma do que das miofibrilas (hipertrofia sarcoplasmática), explicando assim a diminuição da força em termos relativos com o aumento do diâmetro da fibra muscular?
É possível.
Pode
também ser possível que a hipertrofia sarcoplasmática seja mais provável de ocorrer à
medida que as fibras musculares ficam maiores, ou seja, a partir de um
determinado ponto de crescimento muscular a hipertrofia
sarcoplasmática começa a desempenhar um papel mais preponderante que
a miofibrilar.
Existem alguns suplementos, alimentos ou métodos de treino que podem aumentar esta quantidade de liquido e substâncias sólidas nele incluídos de forma temporária:
Existem alguns suplementos, alimentos ou métodos de treino que podem aumentar esta quantidade de liquido e substâncias sólidas nele incluídos de forma temporária:
- A creatina traz mais água ao músculo, retendo e hidratando,
- Os alimentos com carboidratos aumentam as reservas de glicogénio,
- Os treinos intensos deixam o músculo inchado por 72h,
Todos de certa maneira aumentam o sarcoplasma mas isso não é sinónimo de hipertrofia sarcoplasmática, pois o que nos interessa é encontrar algo mais definitivo e consistente.
Esta
hipertrofia mais definitiva não pode por estes motivos ser causada pelo
aumento directo da parte líquida, mas talvez possa resultar do aumento
da proporção das organelas (proteínas não contrácteis) presentes no sarcoplasma, pois cada grama de proteína
necessita de 3 gramas de água para ser armazenada.
À
medida que as fibras musculares crescem a densidade capilar relativa à sua área
diminui, assim como a densidade mitocondrial, aumentando a dependência
do metabolismo anaeróbico que é desempenhado pelas organelas (proteínas
sarcoplasmáticas).
Ou seja, as organelas passam a ter um papel mais preponderante a partir de certo ganho de volume muscular, justificando-se o seu maior número que por sua vez necessita de água para ser armazenado. O volume do sarcoplasma é assim aumentado de forma substancial e de carácter mais definitivo pois é o número crescente de organelas que justifica a manutenção destes líquidos no sarcoplasma.
É possível que a hipertrofia sarcoplasmática ocorra e que tenha um efeito importante no crescimento muscular em geral, no entanto não é claro que treinar de uma maneira específica possa influenciar o aumento ou diminuição deste tipo de hipertrofia.
1- A hipertrofia sarcoplasmática (crescimento do sarcoplasma que ultrapassa o crescimento das miofibrilas) parece existir em alguma medida,
2- O simples aumento do armazenamento de glicogénio, ou das reservas de creatina não parece ser o condutor da hipertrofia sarcoplasmática, que parece ser causada pelo aumento do conteúdo das organelas (proteína sarcoplasmática),
3- Existe a hipótese de que a taxa a que isto ocorre possa ser influenciada pelo treino, mas não existe consenso se o podemos fazer de forma específica para a hipertrofia sarcoplasmática ou para a hipertrofia miofibrilar. Parece ser mais uma consequência do próprio crescimento muscular que a partir de certo volume ou crescimento parece enveredar mais para o aumento do conteúdo proteico do sarcoplasma do que o das miofibrilas,
4- Comparar a força e o respectivo volume muscular dos fisioculturistas e dos atletas de força não é uma maneira válida de concluir se existe mais hipertrofia sarcoplasmática nos primeiros do que nos segundos. No entanto não podemos ignorar esta hipótese por completo, apenas porque existem mais variáveis que explicam a diferença entre a força de uns e doutros atletas, relativamente ao seu tamanho.