- Os lípidos são um grupo heterogéneo de vários componentes,
- Muitas vezes confundimos lípidos com gordura (também chamada de triglicerídeos) mas que esta é apenas uma dos seus componentes,
- Existe uma gordura ''artificial'' criada pela indústria alimentar (gordura trans ou hidrogenada) que é nociva à nossa saúde e que serve o propósito de prolongar a validade dos produtos nas prateleiras dos supermercados.
Colesterol
O Colesterol pertence ao grupo dos esteróis, um grupo de compostos solúveis em gordura encontrado nas membranas celulares e transportado no plasma sanguíneo de todos os animais. É um componente essencial na manutenção da fluidez e integridade estrutural das membranas celulares dos mamíferos.
O colesterol é o principal esterol sintetizado pelos animais, as plantas apresentam um tipo de composto similar chamado de fitosterol.
Devido à sua forma e configuração singular o colesterol é usado primariamente para construir/manter células e algumas hormonas (estrógenio, progesterona, testoesterona, cortisol, etc) e não para armazenamento ou fonte de energia.
Algumas pesquisas recentes indicam que o colesterol pode atuar como um antioxidante e ajuda na fabricação da bílis, sendo também importante para o metabolismo das vitaminas lipossolúveis. Ele é o principal precursor para a síntese de vitamina D e de várias hormonas esteroides (cortisol, aldosterona, progesterona, estrógenos, testosterona e derivados). Recentemente também tem sido relacionado a processos de sinalização celular e redução da permeabilidade da membrana plasmática ao hidrogênio e sódio.
Vamos olhar para uns números:
- Um homem que pese 68kg produz, em média, 1g de colesterol por dia,
- No seu corpo encontram-se 35g de colesterol, a maior parte das quais dentro das membranas celulares,
- Nos Estados Unidos, a ingestão média diária de colesterol para este homem seria de 307mg (0,307g), menos de um terço diário do colesterol produzido pelo corpo,
- O colesterol ingerido via alimentação é esterificado mas o corpo utiliza maioritariamente colesterol na sua forma livre, seja para produzir as lipoproteínas (responsáveis pelo transporte dos lípidos na corrente sanguínea), seja para ser usado pelas nossas células,
- Por estas razões o colesterol ingerido é fracamente absorvido (a maior parte dele é rejeitado), no entanto é sempre necessário algum colesterol esterificado para construir as lipoproteínas acima referidas,
- As células do nosso corpo libertam colesterol na forma esterificada, a sua função prende-se com o ‘’empacotamento’’ do colesterol, tornando-o mais propício a ser transportado dentro do nosso corpo,
- O colesterol também é reciclado no nosso corpo e quando ingerido em grandes quantidades (via alimentação), ativa-se um mecanismo de regulação que diminui a sua produção endógena.
- O corpo prefere produzir o seu próprio colesterol do que utilizar o que ingere na alimentação,
- O corpo recicla o próprio colesterol que produz e que utiliza,
- Mesmo se comermos muitos alimentos com grandes quantidades de colesterol o corpo autorregula-se diminuindo a sua própria produção para manter os níveis equilibrados.
Porque temos níveis tão altos de colesterol no sangue a nos entupirem as artérias?
A resposta a esta pergunta será analisada na descrição das lipoproteínas, que vamos observar mais à frente. Fica aqui uma tabela de alguns alimentos que contêm colesterol e os seus valores:
Alimentos
(g)
|
Colesterol
(mg)
|
Triglicerídeos
(g)
|
Saturados
(g)
|
Hidratos
Carbono (g)
|
Bife
de vaca
|
74
|
23
|
9
|
0
|
Bacon
cru
|
68
|
45
|
15
|
0
|
Galinha
crua
|
79
|
29
|
8
|
0
|
Caranguejo
cru
|
78
|
1
|
0
|
0
|
Bacalhau
cru
|
43
|
1
|
0
|
0
|
Manteiga
c/sal
|
215
|
81
|
51
|
0
|
Queijo
Edam
|
89
|
28
|
18
|
1
|
Ovo
cru
|
423
|
10
|
3
|
1
|
Leite
(1%tg)
|
5
|
1
|
0,6
|
5
|
Pizza
|
27
|
11
|
5
|
31
|
Cheeseburguer
|
60
|
21
|
9
|
35
|
Fosfolípidos:
São lípidos constituídos por uma molécula de glicerol (álcool), duas cadeias de ácidos gordos (uma saturada e uma insaturada), um grupo fosfato e uma molécula polar ligada a ele.
São moléculas anfipáticas pois possuem uma cabeça (grupo fosfato e o glicerol) que é polar ou hidrofílica (têm afinidade com a água) e uma cauda (constituída por cadeias de ácidos gordos) apolar ou hidrofóbica, isto é, que repele a água.
Não vamos adiantar muito mais sobre este tipo de lípido mas vamos ressaltar que é esta qualidade hidrofílica (numa extremidade) e hidrofóbica (no outro extremo) que faz com que elas sejam tão importantes na formação das lipoproteínas, cuja função é transportar as gorduras (que não se misturam com água) num meio aquoso (sangue e linfa).
A sua extremidade hidrofóbica faz contato e mantém enclausurados os lípidos no interior desse meio de transporte (lipoproteínas), enquanto a outra extremidade (hidrofílica) faz o contato com o meio aquoso (sangue ou linfa), permitindo as estas lipoproteínas ‘’navegar’’ na corrente sanguínea e chegar ao seu destino.
Lipoproteínas:
A lipoproteína é um agregado molecular que contém proteínas e lípidos.
Como os lípidos não podem ser transportados no sangue e linfa (azeite não se mistura com água), o corpo precisou de fabricar um meio de transporte para levar estes compostos ao seu destino, este meio de transporte chama-se lipoproteína e é criado através da emulsificação dos lípidos pelas proteínas, isto é, da sua interacção criam uma partícula complexa que é solúvel em água e que transporta no seu interior os triglicerídeos e o colesterol (esterificado).
O revestimento externo desta partícula é feito de proteínas, fosfolípidos e colesterol livre (não esterificado), e a parte proteica é chamada de apoproteína.
No organismo humano, este composto é sintetizado no fígado e no intestino delgado.
Relevantes para o nosso post temos:
A lipoproteína é um agregado molecular que contém proteínas e lípidos.
Como os lípidos não podem ser transportados no sangue e linfa (azeite não se mistura com água), o corpo precisou de fabricar um meio de transporte para levar estes compostos ao seu destino, este meio de transporte chama-se lipoproteína e é criado através da emulsificação dos lípidos pelas proteínas, isto é, da sua interacção criam uma partícula complexa que é solúvel em água e que transporta no seu interior os triglicerídeos e o colesterol (esterificado).
O revestimento externo desta partícula é feito de proteínas, fosfolípidos e colesterol livre (não esterificado), e a parte proteica é chamada de apoproteína.
No organismo humano, este composto é sintetizado no fígado e no intestino delgado.
Relevantes para o nosso post temos:
Nome
|
Densidade
|
Tamanho
|
Produção
|
Quilomicrons
|
Menor
|
Maior
|
Metabolismo
endógeno
|
VLDL (very low density
lipoprotein)
|
Muito
baixa
|
grande
|
Metabolismo
exógeno
|
IDL (intermediate density lipoprotein)
|
Intermédia
|
Intermédio
|
Metabolismo
exógeno
|
LDL (low density lipoprotein)
|
Baixa
|
Pequeno
|
Metabolismo
exógeno
|
HDL (high density low
protein)
|
Maior
|
Menor
|
Metabolismo
reverso
|
Se repararem no quadro a densidade e o tamanho são grandezas de uma relação inversa:
Uma remove detritos e excessos dos vasos sanguíneos e a outra é mais propícia a deixar componentes capazes de interagir (oxidar) com os radicais livres e criar esses entupimentos.
Vamos fazer um apanhado dos percursos que estas lipoproteínas dão, para entendermos melhor estes processos.
Metabolismo Exógeno:
O VLDL irá dar origem aos problemas associados ao colesterol:
Diferentes tipos de LDL:
- Quanto menor for a densidade de uma lipoproteína maior o seu tamanho (quilomicrons),
- Quanto maior a densidade de uma lipoproteína menor o seu tamanho (HDL),
Uma remove detritos e excessos dos vasos sanguíneos e a outra é mais propícia a deixar componentes capazes de interagir (oxidar) com os radicais livres e criar esses entupimentos.
Vamos fazer um apanhado dos percursos que estas lipoproteínas dão, para entendermos melhor estes processos.
Metabolismo Exógeno:
- É o metabolismo que lida com os lípidos que ingerimos na alimentação,
- Os quilomicrons são produzidos no intestino e são responsáveis por transportar os lípidos que comemos,
- Iniciam a sua viagem na linfa (são grandes demais para passarem nos capilares sanguíneos),
- São levados posteriormente às grandes veias e circulação sanguínea onde transportam as gorduras, colesterol e fosfolípidos para serem absorvidos, armazenados (no tecido adiposo) ou transformados em energia (nos músculos),
- No final da sua viagem, dirigem-se ao fígado e entregam o seu colesterol (remanescente) para ser transformado em ácido biliar que irá para o intestino delgado ajudar a digerir os lípidos (sítio onde iniciou esta viagem),
- Após esta última entrega ele é decomposto.
- É produzido pelo fígado e segue pelo sangue, percorrendo o corpo todo, retirando o colesterol (dos músculos e não só) e a gordura acumulada dos tecidos adiposos,
- A HDL é a boa da fita, quando fazemos dietas e treinamos muito para emagrecer são estas lipoproteínas as nossos melhores amigas, pois vão buscar as gordurinhas armazenadas para serem transformadas (queimadas) em energia,
- Também apanham pelo caminho colesterol e outros componentes suscetíveis de entupirem as veias,
- Levam o colesterol para os órgãos sexuais onde serve de base para a criação das nossas hormonas,
- O final desta viagem termina no fígado com a entrega do colesterol, triglicerídeos e fosfolípidos que sobraram para reaproveitamento, reciclagem ou armazenamento,
- Assim que se encontram sem ''passageiros'' estas lipoproteínas não são decompostas, retomam a viagem e tudo se repete...
- Este metabolismo lida com os lípidos criados, reciclados ou armazenados no fígado,
- O fígado desempenha um papel central na gestão dos açúcares e gorduras, pois quando sobra glicose da digestão (o açúcar do pão, massa, doces, sobremesas, etc), esta é convertida em triglicerídeos (através de um complexo ciclo de transformações químicas), de forma a armazenar mais energia num menor espaço, pois como vimos anteriormente, cada molécula de triglicerídeo (gordura) fornece 9kcal, mais do dobro do que a molécula de glicose,
- Se sobrar muita gordura (triglicerídeos) da nossa digestão, esta pode ser decomposta e armazenada no fígado (células hepatócitas) ou juntar-se aos triglicerídeos anteriormente descritos,
- Estes triglicerídeos irão integrar a lipoproteína chamada VLDL (em conjunto com algum colesterol, fosfolípidos e apoproteínas).
O VLDL irá dar origem aos problemas associados ao colesterol:
- Esta lipoproteína segue na circulação sanguínea e vai deixando triglicerídeos nos músculos (que os convertem em energia) e no tecido adiposo (que os armazena), diminuindo assim de tamanho e tornando-se mais densa, ponto onde muda de nome para IDL,
- Algures no seu percurso o IDL cruza-se com o HDL e recebe colesterol em troca de triglicerídeos e fosfolípidos, diminuindo ainda mais de tamanho e aumentando ainda mais a sua densidade, ponto onde muda novamente de nome, desta vez para LDL,
- Mais de metade da LDL é composta de colesterol,
Diferentes tipos de LDL:
- Existe mais de um tipo de LDL com tamanhos e densidades diferentes, mas para simplificar vamos apenas dividir em duas, a LDL(a) (maior e menos densa) e a LDL(b), menor e mais densa,
- A LDL(a) tem funções importantes, entre as quais o fornecimento de colesterol às células para todas as finalidades que vimos no HDL (neste sentido são semelhantes, fazem uma espécie de reforço),
- No final da sua viagem a LDL(a) é retirada da circulação no fígado onde os componentes que sobraram são reciclados, armazenados ou reutilizados,
- A LDL(b) é mais pequena e densa e portanto capaz de penetrar pelas brechas do endotélio (membrana semipermeável que constituí a camada celular interna dos vasos sanguíneos),
- Assim que endótelio é transposto, a LDL(b) entra em contato com radicais livres e sofre um processo de oxidação, esta intrusão despoleta um mecanismo de defesa onde os monócitos (glóbulos brancos/células defensivas) saem da circulação sanguínea e penetram no endotélio (transformando-se em macrófagos),
- Os macrófagos tentam ingerir as partículas da LDL(b) oxidadas, resultando uma cadeia de respostas inflamatórias onde a HDL tenta remover estes compostos oxidados que estão nos macrófagos,
- Estas respostas podem não ser suficientes para evitar a formação de placas de ateroma e de células espumosas que deixam restos de compostos oxidados (entre os quais colesterol) nas paredes das artérias.
A Aterosclerose é o nome da doença inflamatória crónica caracterizada por esta formação de ateromas dentro dos vasos sanguíneos:
Este processo leva anos e é a causa dos problemas cardiovasculares.
Mas qual é a causa do aumento deste LDL(b)?
Se o corpo não aproveita a maior parte do colesterol presente na nossa comida, porque razão é produzido tanto colesterol para se formarem este tipo de lipoproteína? Porque não baixa ele a produção quando este processo atinge níveis excessivos?
A LDL(b) é uma lipoproteína composta (também) por colesterol que só é produzida se houver outros compostos (além do colesterol) para transportar:
Conhecimento é poder
- O colesterol é só um intermediário neste processo e tal como os fosfolípidos e as apoproteínas, eles apenas são recrutados para formar as Lipoproteínas quando existem triglicerídeos (gordura) para serem transportados,
- Não havendo excesso de triglicerídeos, não haveria tantos compostos a serem transportados no metabolismo endógeno nem esta produção excessiva e maligna de lipoproteínas.
- Eu diria que comemos muita comida e de má qualidade, mas os culpados não são as gorduras nem o colesterol que encontramos nos alimentos saudáveis e milenares (carne, ovos, peixe, azeite, manteiga, etc) e que no seu estado natural são benéficos e necessários.
Conhecimento é poder