Como acelerar/desacelerar a nossa taxa metabólica (parte 1)

Quem leu o post ‘’Metabolismo acelerado Vs Metabolismo lento’’ ficou a saber que:
  • O metabolismo corresponde à maneira como o nosso corpo transforma energia (queima calorias) de forma a operar as funções que nos mantêm vivos, 
  • O nosso corpo transforma energia para manter actividades vitais como a respiração, o bater do coração e a circulação sanguínea, a regulação da temperatura corporal, o sistema nervoso, entre outros órgãos.
Desempenhadas estas funções vitais entramos nas actividades para as quais a transformação de energia é muito mais dispendiosa e onde a queima de calorias é maior (andar, subir escadas, correr, fazer exercício, etc).
A nossa fonte de energia são os macronutrientes que encontramos na alimentação: 
  • Quando ingerimos alimentos, um grande número de trocas físicas e químicas se inicia (dentro do nosso corpo) para transformar, queimar e/ou acumular os nutrientes que ingerimos, 
  • Algumas pessoas têm mais facilidade em acumular gordura, outras em ganhar massa muscular, algumas em locais específicos do corpo (no tronco ou nas pernas por exemplo). Para perceberem melhor esta questão leiam o post: ‘’Mesomorfo, Ectomorfo, Endomorfo...o que é isso? ‘’.
Vimos também que a taxa metabólica é a taxa segundo a qual o nosso corpo queima calorias (transforma alimentos em energia). Normalmente esta taxa é medida quando estamos em repouso (quase absoluto), sem interferências de outras actividades, de forma a determinar a que ritmo o nosso corpo está a utilizar energia para desempenhar as funções vitais acima descritas. Quanto maior for a taxa metabólica, mais calorias o corpo está a queimar para se manter. Quanto menor for a taxa, o contrário acontece.
Sei o que estão a pensar...quem quer perder peso deseja uma taxa metabólica alta e quem quer ganhar peso o contrário, mas as coisas não são assim tão simples e no post anterior sobre metabolismo eu apenas risquei a superfície, razão pela qual venho fazer uma abordagem mais profunda.
A nossa taxa metabólica é isso mesmo...nossa...e tem o seu q.b. de hereditário. Podemos alterá-la e, com o avançar da idade e a mudança de hábitos e estilo de vida, ela também se altera...mas tem os seus limites.
A razão pela qual 2 pessoas diferentes fazendo praticamente o mesmo (comendo, descansado e treinando igual) podem ter resultados diferentes (uma emagrecer e outra engordar por exemplo), não está bem explicada. O nosso metabolismo está envolvido nisto, entre outras variáveis, que são em grande parte hereditárias (genética):
  • Quem tem ascendência africana de uma forma geral tem a pele escura certo? Assim como outros povos que vivem em climas tropicais (indianos, tailandeses, ameríndios, etc)...é uma adaptação ao clima (exposição solar) que altera a nossa pigmentação de pele, 
  • Quem tem ascendência de países nórdicos provavelmente terá uma pele muito clara e o mesmo se pode dizer de um sem número de traços e características físicas, desde a cor dos nossos olhos, o formato do nariz (que está correlacionado com a temperatura e disponibilidade de oxigénio no ar), musculatura, altura, etc, etc..
O metabolismo não é excepção. Após milénios de exposição a um determinado clima, estilo de vida e alimentação, o nosso organismo adapta-se e estabelece o seu ritmo metabólico.
Imaginem um povo que viva num clima quente e tropical, que se alimente apenas do que caça e do que recolhe da natureza, ou seja, que não cultive (agricultura)...terá com certeza um metabolismo bastante diferente de um povo que viva de agricultura e pecuária, num clima frio ou temperado. Seria a diferença entre os povos ameríndios e o povo britânico da época medieval por exemplo, teriam biotipos e metabolismos certamente diferentes.
Onde quero chegar com esta ladainha é que podemos fazer algumas alterações na nossa taxa metabólica e na maneira como o nosso corpo transforma e acumula energia, mas não podemos eliminar milhares de anos que nos foram passados no nosso código genético, existem limites bem vincados naquilo que podemos fazer com o nosso metabolismo. Daqui a milhares de anos se continuarmos a trabalhar sentados num escritório, a comer comida processada, o nosso metabolismo será com certeza bastante mais lento.
Esqueçam os cálculos de taxas metabólicas como a TMB (taxa metabólica basal) ou a TMR (taxa metabólica de repouso), porque introduzirem o vosso peso, idade e altura numa página da internet, que vos vai dizer quantas calorias têm de comer por dia para perderem ou ganharem peso, é atirar areia para os olhos.
É óbvio que se comerem muito e ficarem sentados o dia todo vão engordar (uns mais que os outros)...da mesma maneira que se passarem fome e forem a pé para Fátima todos os meses rezar uns ''Pai Nossos'', irão perder peso certamente, mas isto não é saúde.
Saúde é perceber como o nosso corpo funciona e o que temos de fazer para estarmos em forma e com vigor físico.
Já falámos do quanto é inútil contar calorias no post ‘’O que são Calorias? Vale a pena contá-las?’', já sabemos que as 90 calorias de um mini brigadeiro (bolo de chocolate) são processadas de forma diferente (pelo nosso corpo) das 90 calorias de uma maçã porque
as primeiras engordam e as segundas não. Alimentos (e nutrientes) diferentes geram respostas e sinalizações químicas diferentes no nosso corpo.
As pessoas que seguem estas taxas metabólicas e dietas da internet, ao reduzirem a ingestão total de calorias diárias (ou seja, que comem menos por dia) na tentativa de diminuir o seu peso, acabam por ver o corpo adaptar-se ao novo regime restritivo e gerar um efeito de compensação, ajustando e diminuindo a sua taxa metabólica de forma a compensar a diminuição calórica...por isso deixem de contar calorias, deixem de fazer cálculos de taxas metabólicas.  
O corpo não funciona de forma matemática, ele não conta calorias, ele reage à comida que lhe damos, e pressupõe que o que temos vindo a fazer nas últimas semanas irá ter continuidade, ou seja, o corpo calcula as suas necessidades energéticas futuras e planeia a sua composição física, forma de queimar ou acumular nutrientes com base no registo que tem das últimas semanas/meses, como se fosse um computador que fizesse previsões baseado em registos estatísticos. 
Daqui resulta que: 
  • Se ingerirmos alimentos de boa qualidade e em quantidade adequada, 
  • Se vivermos uma vida activa e dormirmos um sono reparador,
Ganhamos ou tonificamos massa muscular, saúde e bem estar.
  • Se ingerirmos alimentos de má qualidade e em quantidade inadequada (insuficiente ou demasia),
  • Se não dormirmos um sono em quantidade suficiente e de boa qualidade,
  • Se levarmos uma vida sedentária ,
Perdemos massa muscular ou engordamos, perdemos saúde e bem estar.
Esta lógica pressupõe uma continuidade dos comportamentos do histórico recente, e se temos vindo a fazer as coisas de forma certa e estável não haverá motivo para acumular gorduras, que são recursos úteis em caso de escassez ou má nutrição.
Por isso é que é mais fácil perder massa muscular do que gordura e é precisamente isso que acontece quando fazemos dietas agressivas (perdemos pouca gordura e muita massa muscular). E por isso é que quando perdemos peso (nestas dietas) não alteramos a forma do nosso corpo (objectivo real) e continuamos infelizes nas nossas calças agora mais largas e a pedirem um número mais pequeno.
Na segunda parte deste post vamos ver medidas práticas que ajudam a alterar a nossa taxa metabólica, dentro do plano que a natureza traçou para cada um de nós.
Know your body, know thyself