Dianabol

O Dianabol é um esteróide anabolizante e como já vimos anteriormente, os esteróides são derivados artificiais da testosterona criados com o intuito de reduzir algumas das qualidades menos positivas desta hormona e realçar algumas das qualidades mais desejáveis.
O Dianabol é um dos esteróides mais utilizados do mundo e tem uma história muito interessante e que serve de exemplo explicativo de como toda esta indústria cresceu e se desenvolveu, passando da legalidade para a proibição e tornando-se assim no tabu que é hoje.
O nome do seu princípio activo é Metandrostenolona ou Metandienona e a sua criação pretendeu:

  • Reduzir as qualidades androgénicas da testosterona (efeitos masculinizantes como o crescimento de pelos e engrossamento da voz), 
  • Aumentar ou manter as características anabólicas (aumento de massa muscular).
No entanto este esteróide não saiu bem como se planeava pois acabou por manter, de forma mais ou menos pronunciada, as suas características androgénicas, particularidade de que já iremos falar.
Isto prova que por mais que os cientistas tentem ''substituir e copiar'' a natureza através da manipulação de processos químicos o resultado final é sempre incerto porque os organismos, através de mecanismos compensatórios, acabam sempre por anular ou alterar muitos dos efeitos destes mesmos processos ''artificiais''.
Isto resulta numa série de tentativas e erros levados a cabo pela ciência na tentativa de descobrir os mistérios naturais do corpo.
No caso do Dianabol conseguiu-se obter algumas características desejadas, outras nem por isso.
Vamos então ver as particularidades deste esteróide e conhecer a sua história.
Conta o Dr. Ziegler, médico de várias equipas olímpicas do EUA (incluindo a de Halterofilismo), que durante os jogos olímpicos de 1956 os atletas de desportos de força soviéticos estavam sobre o uso de testosterona, facto constatável através da observação de alguns efeitos secundários, chegando um dos atletas a ter que urinar por um catéter, tal era o grau de hipertrofia da sua próstata (fins a justificar os meios).
Visto os atletas soviéticos estarem a dar uma valente coça nos americanos nos desportos de força, este médico decidiu trabalhar com a
Ciba Pharmaceuticals, na tentativa de criar um esteróide com menor actividade androgénica mas que mantivesse as propriedades anabólicas, de forma a ganhar as medalhas  que estavam a ser perdidas para o ''Bloco de Leste''.
Da modificação da estrutura química da testosterona
nasce então o Dianabol, libertado para o mercado farmacêutico em 1958.

Quase sem representação injectável, este é possivelmente o esteróide oral mais utilizado do mundo. 
O seu sucesso foi imediato e de longo alcance, fazendo com que os atletas tivessem grandes progressos nas suas carreiras competitivas.
Esta difusão do Dianabol e dos seus resultados veio criar uma vaga de abuso destas substâncias que ultrapassaram em muito as recomendações do Dr. Ziegler, inicialmente de 5 a 15mg por dia.
Hoje há pessoas que tomam 100mg diárias, 6 vezes mais do máximo recomendado.
O Dr. Ziegler tornou-se posteriormente numa das maiores vozes contra o doping desportivo e no livro ''Death in the Locker Room'' (Morte no Vestiário) conta como entrou em contacto com o mundo dos esteróides e do seu abuso indiscriminado.
Este livro foi bastante controverso e gerou muita polémica.
Com o uso abusivo e a polémica gerada pelo uso de drogas para atingir resultados desportivos a FDA (Food and Drug Administration) começou, a partir de 1965, a requisitar informações acerca desta droga e da sua finalidade/legitimidade para continuar a ser produzida.
Esta pressão continuou até aos anos 80 altura em que o Dianabol foi descontinuado e a sua produção proibida.

Hoje em dia ainda é produzido em países com menor regularização farmacêutica ou por laboratórios underground, leia-se armazéns ou cozinhas sem preparação para o mesmo.
As dosagens normais destes pseudo-medicamentos variam de 5 a 10mg por comprimido.
Existe Dianabol veterinário na forma injectável, mas isto não é comum de se ver, pois a molécula desta substância é densa e as soluções injectáveis não suportam mais do que 50mg de substância activa por cada ml, o que é manifestamente pouco.

Características estruturais
  • As alterações feitas à molécula de testosterona para se criar o Dianabol resultaram numa menor afinidade relativa para se ligar aos receptores androgénicos, sendo de esperar uma redução dos seus efeitos masculinizantes. Na prática isto não aconteceu pois grande parte destes efeitos continuam a ser observados, consequência da sua forte aromatização (conversão em estrogénio),
  • O Dianabol possui uma maior meia-vida e menor afinidade com as proteínas do plasma sanguíneo, estas características permitem a esta droga exercer um potente efeito anabólico (ganhos de força e aumento da massa muscular), pois a quantidade de substância a circular na corrente sanguínea encontra-se activa por mais tempo e em maiores concentrações.
Efeitos secundários
  • O corpo converte esta hormona em estrogénio (aromatização) e também se converte numa forma de estrogénio mais activa que dá pelo nome de 17alpha-methylestradiol,
  • Este duplo efeito estrogénico pode causar ginecomastia, que é um problema comum durante a sua utilização e isto pode acontecer logo no inicio do ciclo,  
  • A retenção de água também é comum, causando perda de definição que é piorada pela acumulação de gordura, outro efeito relacionado com o estrogénio,  
  • A adição de tamoxifeno (Nolvadex) e de masterolona (Proviron) previne a questão da aromatização e da ginecomastia, mas não muda a parte da retenção hídrica, 
  • O anastrozole (arimidex) é um anti-estrogénio poderoso mas também caro que pode ser mais eficaz no combate a estes efeitos secundários, mas cujo o preço pode não justificar o uso. Quem escolhe tomar dianabol deve procurar volume e tamanho, pois não faz sentido comprar um esteróide mais barato para depois gastar esse dinheiro poupado em drogas auxiliares para combater os seus efeitos secundários,
  • O dianabol não é indicado para quem procura definição muscular, vejam o Post ''Esteróides para crescer (Bulk) Vs. esteróides para secar (Cut)'' para ficarem por dentro do assunto.
Apesar de ter sido criada com a intenção de reduzir os efeitos androgénicos, estes continuam a ser relevantes e comuns:
  • Pele oleosa, 
  • Acne,  
  • Crescimento e engrossamento dos pelos faciais e corporais,  
  • Possível agravamento da queda de cabelo.
Por este motivo o Dianabol não é aconselhado a mulheres pois o engrossamento da voz, irregularidades menstruais, hipertrofia do clitóris entre outros efeitos também são possíveis e prováveis.

Toxicidade no fígado (hepatotoxicidade)
  • Este esteróide pertence ao grupo dos c17-alpha alquelados, que contêm uma alteração que os protege da acção do fígado, permitindo que uma grande percentagem do comprimido entre na corrente sanguínea,
  • Isto causa algum stress no fígado que se traduz em toxicidade, coisa que é comum a muitos dos medicamentos orais (Ben-u-ron por exemplo),
  • O risco prende-se com o uso prolongado ou de dosagens muito elevadas e por este motivo esrtas não devem ultrapassar as 6 ou 8 semanas, 
  • Para usos farmacêuticos (até 10mg por dia) a toxicidade hepática não é um problema, no entanto, para fins desportivos esta dosagem não é suficiente (de 20 a 50mg dia) e daí a necessidade de limitar a duração da administração,
  • Se mesmo assim aparecerem sinais como pele a escamar nas mãos ou cor amarelada deve-se tomar um suplemento para a regeneração do fígado como o cardo mariano, a silimarina ou o Liv-52.
Consequências no perfil lipídico
Todos os esteróides, de uma maneira geral, são susceptíveis de ter efeitos negativos nos níveis das lipoproteínas, aumentando as LDL e reduzindo as HDL:
  • Isto aumenta o risco de contrair doenças cardiovasculares, 
  • Afecta a pressão arterial e os níveis de triglicerídeos,  
  • Reduz a flexibilidade do endotélio,  
  • Causa hipertrofia do ventrículo esquerdo.
O impacto dos esteróides no aumento do risco de contracção destas doenças é sempre dependente das doses, do tipo de esteróide que se toma e no stress que o mesmo causa na passagem pelo fígado.
  • O Dianabol tem um forte efeito na gestão hepática dos níveis de colesterol e produção das lipoproteínas devido à sua ingestão oral e resistência estrutural que permitem a passagem pelo fígado,
  • De forma a menorizar estes possíveis efeitos secundários negativos é aconselhável fazer treinos cardiovasculares e uma boa dieta (sem lixo e com menor carga glicémica).
Consequências na produção endógena da testosterona
Ao tomarmos esteróides anabolizantes ficamos com um nível mais elevado de testosterona fazendo com que o corpo pare a sua produção endógena.
Se em média produzimos de 2,5 a 11mg diárias, então basta uma dose de 15mg de um qualquer composto durante poucas semanas para parar a nossa produção.

  • O Dianabol tem uma influência particularmente forte neste mecanismo de supressão e se o seu uso for demasiado prolongado e excessivo pode originar problemas e incapacidade do corpo retomar a sua produção de testosterona (hipogonadismo).
Após todo e qualquer ciclo de esteróides anabolizantes deve-se fazer uma terapia pós-ciclo para assegurar uma rápida recuperação da nossa produção hormonal que nos vai permitir manter os ganhos musculares alcançados.
Administração
Estudos indicam que tomar esteróides anabólicos com comida diminui a sua absorção ou disponibilidade, pois estes por natureza são solúveis nos lipídos o que resulta na perda da parte que é dissolvida na gordura não digerida.
  • Para melhor absorção devem ser tomados de estômago vazio, 
  • Originalmente e para uso medicinal foram prescrevidos 5mg diários por não mais de 6 semanas, seguidas de uma pausa de 2 a 4 semanas, 
  • Para efeitos estéticos ou de performance física era comum usar-se de 15 a 30mg diários durante 6 a 8 semanas com uma descontinuação de também 6 a 8 semanas, 
  • As dosagens variam de pessoa para pessoa consoante factores individuais dos quais o peso corporal faz parte, pois um homem com 120kg não verá os mesmos efeitos que um homem de 65kg com a mesma dosagem. Quanto maior o peso, maior a dosagem necessária para se ver resultados e isto é comum a todos os medicamentos.
No entanto existe um limite acima do qual os efeitos secundários se começam a acumular sem termos mais benefícios, este limite é individual mas acima dos 50/60mg diários, independentemente da constituição física, a dosagem torna-se excessiva, especialmente se estiverem a tomar o Dianabol com outro esteróide.
Juntar outros esteróides
  • Este esteróide faz um bom efeito sinérgico com outros anabolizantes, dos quais a Nandrolona (Deca-Durabolin) é parceira de eleição,
  • Ganhos musculares e de força excepcionais são verificados com esta duas substâncias sem um grande agravamento dos efeitos secundários causados pela toma do Dianabol sozinho, 
  • A testosterona também se junta bem neste ciclo e este é o ''Stack'' mais comum de se usar, especialmente para iniciados, Dianabol com Deca e Testoesterona.
Frequência da toma
Tem um meia vida de 3 a 5 horas o que faz com que se tomarmos uma única dose diária fiquemos mais de 18h sem uma actividade pronunciada do esteróide.
  • Para termos níveis concentrados e constantes no sangue faz sentido dividir a toma em 2 ou 3 vezes por dia, no entanto, desta forma teremos um pique menor no sangue do que se tomarmos numa única vez, 
  • As duas opções são viáveis, uma permite maior concentração, a outra níveis mais estáveis.
As mulheres não deviam tomar Dianabol devido aos seus efeitos androgénicos que causam fortes sintomas de virilização.
Para as que se aventuram, devem ficar no mínimo, 5mg ou menos se possível (tomando meio comprimido).

Produção e acessibilidade 
O Dianabol ainda continua a ser produzido em bastante quantidade, mas limitada às empresas farmacêuticas da Ásia e do Leste Europeu.
Todos os produtos que não pertençam a marcas destes países são criados em laboratórios underground, em condições incertas e duvidosas, sem certificação ou garantias de que o que está nos comprimidos é mesmo aquilo que diz na caixa e naquela dosagem.
Mesmo as marcas dos continentes referidos são objecto de contrafacção e nestes casos o risco é o mesmo.
No fundo nunca podemos ter a certeza do que estamos a tomar porque não sabemos de onde o Dianabol vem nem em que condições é produzido.
Ou arriscamos e experimentamos para saber se o produto é bom (com risco para a nossa própria saúde) ou optamos por outros esteróides disponíveis nas farmácias nacionais.
Conhecimento é poder