Ioga

Para introduzir e explicar o que é o Ioga vou basear-me no livro que li da Indra Devi, professora de Ioga do século XX que é tida como a primeira ocidental a ensinar este sistema de treinamento físico e mental.
O livro chama-se ''Forever Young Forever Healthy''.
Ioga é um dos mais antigos sistemas de treinamento físico, mental e espiritual. Teve origem na Índia há milhares de anos, não é religião ou credo, nem tão pouco tem templos, ritos ou dogmas.
É um processo de auto-realização que começa pela perfeição do corpo e termina com o desdobramento do espírito, pode ser feito por toda a gente, independentemente da fé que tenham, seja Cristã, Judaica, Muçulmana, Budista, Hindu, Agnóstica ou Ateia, o Ioga é benéfico a toda a espiritualidade.
Manteve-se intacto e protegido de influências externas durante milhares de anos devido à sua característica esotérica, de ensinamentos secretos comunicados a discípulos que passavam anos com os seus Gurus (guias e mestres espirituais), a quem deviam obediência e a quem a compensação monetária pouco ou nada interessava.
Só nos últimos 100 anos temos a disseminação do Ioga em aulas a troco de dinheiro.
Na Índia antiga os iogues (pessoas que praticam Ioga) formavam um grupo de místicos e cientistas para quem a relação entre o homem mortal e o espírito imortal tinha grande importância. 
Esforçaram-se por achar o meio de unir conscientemente os dois durante a vida do homem sobre a terra e passaram séculos a realizar experiências com diversos meios de relaxação, concentração e meditação, várias maneiras de respirar, diversos regimes alimentares, jejuns e exercícios físicos e espirituais. 
Quando atingiram  êxito com os seus esforços, sistematizaram os resultados das descobertas chamando-os de Ciência do Ioga.
O objectivo do Ioga é conseguir a união entre o homem (finito) e o espírito (infinito), da consciência individual com a consciência cósmica.
Existem vários Iogas que se concentram em diferentes aspectos com diferentes objectivos, entre eles existe o Hatha Ioga que se foca no treinamento para o bem estar-físico, ideal para uma pessoa ocidental se iniciar, pois é menos filosófica e mística e serve como um primeiro degrau na escada, por assim dizer.
O Hatha Ioga tem uma mensagem iluminadora e prática para o mundo ocidental fatigado e inquieto.
No Hatha Ioga começa-se por aprender a respirar correctamente, como e o que comer, como repousar e exercitar o corpo e a mente.
O ensino de Hatha Ioga faz-se por estágios:
  • Posturas (asanas) 
  • Controlo da respiração (pranayama) 
  • Controlo dos nervos (prabyahara) 
  • Controlo do espírito (dharana) 
  • Meditação (dhyiana) 
  • Alcance do esclarecimento (samadhi)
Posturas/Asanas  
Em Sânscrito, as posturas de ioga são designadas de asanas.
Asana refere-se a uma postura que dá conforto físico e compostura mental.
Sem a respiração profunda e ritmada e o significado profundamente psicológico que acompanha as asanas, os exercícios ficam reduzidos a simples movimentos mecânicos, por este motivo é que aos nossos olhos eles se assemelham a meros alongamentos, não vemos a intenção psicológica e motivação espiritual que move o praticante que os está a executar.
As asanas têm efeitos de longo alcance, tanto fisiológicos quanto psicológicos, afectam não só a oxigenação e a circulação do sangue e dos processos digestivos, como as funções do sistema inteiro, mesmo o pensamento e a capacidade mental, normalizando as funções de todos os órgãos e glândulas, especialmente as endócrinas, às quais cabe o equilíbrio metabólico do corpo, o peso e a forma.
Existem muitos benefícios físicos mas o efeito mais proeminente é o efeito mental, pois o equilíbrio resultante da prática de asanas facilita a concentração e a meditação e, desta forma, ajuda a preparar a mente para a meditação. 
A asana deve ser firme e confortável, sem causar nenhum tipo de desconforto, qualquer retesamento ou tensão observada no corpo deve ser conscientemente relaxada.
A respiração deve ser normal e ritmada e o período em que um praticante se mantém estável na asana é denominado tempo de permanência e medido pela quantidade de respirações (inspiração, retenção e expiração) realizadas.
Durante a sua prática o corpo deverá estar fresco e calmo, o estômago não deverá estar cheio, o local deverá estar arejado e não deverá haver fumo no ar.
 
Para alguns exemplos dêem uma olhada neste site.
Respiração/Pranayama
Prana significa respiração, absoluta energia...ayama quer dizer retenção, pausa. 
Pranayama consiste em certa maneira de aspirar e expirar o ar e de reter a respiração.
Todas as actividades do corpo, desde a digestão ao pensamento criativo dependem de oxigénio, o ar é o alimento mais importante do sangue que por sua vez alimenta as células, tecidos, nervos, etc.
Apesar disto tratamos a respiração com completa indiferença, sem prestar-lhe a devida atenção.
Aspirar profundamente algumas vezes por dia ajuda-nos a pensar com clareza, a digerir melhor os alimentos, a gozar de melhor saúde...
Esta constitui uma maneira especial de tomar uma respiração completa, diferente de outro tipo de respiração, tem o poder de encher inteiramente os pulmões e em seguida esvaziá-los, denominando-se ''respiração rítmica profunda'' quando se realiza conforme o ritmo do próprio coração.
Esta maneira de respirar profundamente conjuga-se a todas as asanas e exercícios iogues, executando-se também separadamente como exercício de respiração.
Com o Ioga aprendemos a controlar o ritmo próprio e a protegê-lo de influências perturbadoras, nas grandes cidades é o andamento anormalmente rápido, frenético ou a influência de muitas vibrações opostas que perturbam o ritmo de uma pessoa.
A importância, como em tudo, não reside só no que fazemos mas como o fazemos, ou seja, a atitude mental certa.
Por exemplo, quando se inspira profundamente deve-se imaginar que se está a inspirar também as qualidades desejadas, saúde, coragem, força, tranquilidade, paz de espírito, etc, e quando se expira deve-se imaginar que expelimos condições indesejáveis como a moléstia, temor, aborrecimento, stress, ansiedade, inquietação, etc.
Esta respiração rítmica é um exercício, não é suposto respirar-se assim o dia todo ou fora de altura apropriada para o concentração consciente e emprego destas técnicas.
Deve-se realizá-la num quarto bem ventilado ou diante de uma janela aberta, se não fizer muito frio. É preciso não fazê-lo com o estômago cheio nem usar roupas justas ou cintos apertados.
A posição ideal é a postura de lótus se for possível realizá-la sem esforço (o que é difícil para a maior parte de nós). 
A posição de meio lótus ou sentado de pernas simplesmente cruzadas também serve perfeitamente, num tapete ou lençol dobrado, com as mãos ou pulsos assentes nos joelhos. 
Manter a coluna direita é de extrema importância e corrige a postura.
Para estabelecerem o ritmo da vossa respiração ponham a mão no vosso pulso e contem as pulsações, comecem num ritmo de 4 pulsações para inspirar e 4 pulsações para expirar.
Podem aumentar o tempo que demoram a completar cada respiração à medida que progredirem.
A respiração deve ser leve e fluída e não aos solavancos a tentar acompanhar o ritmo das pulsações.
No início não realizem muitas respirações profundas de uma só vez, vão construindo o vosso ritmo com calma.
Ao inspirar procurem encher a barriga e só depois desta esgotar a capacidade de receber ar se deve preencher o resto dos pulmões ''enchendo o peito''.  A expiração segue a lógica inversa.
Dependendo do exercício varia o tempo de retenção do ar entre a inspiração e a expiração.
Para terem uma ideia vejam este filme. 
Relaxação
Perante situações menos boas que nos acontecem na vida ficamos preocupados e tensos e se isso gerar dificuldade em repousar o stress e ansiedade poderão pôr em causa a nossa capacidade de enfrentar e desbloquear essas situações. Daqui resulta um efeito em espiral que se vai agravando, o espírito fica dominado e perdemos a capacidade de ver claramente.
No mundo moderno o stress tornou-se um estímulo, trabalhamos às pressas, comemos às pressas, fazemos amor às pressas e descansamos às pressas, perde-se a arte de contemplar a vida, perde-se o significado e o sentido.
Muitas das insónias, perturbações nervosas, prisões de ventre, indigestões, enxaquecas, entre outras têm a sua origem na incapacidade de conseguir relaxar, a medicina moderna prescreve drogas para aliviar os sintomas, não procura encontrar e resolver as causas do problema, já não cuidamos da saúde, simplesmente gerimos a dor e o desconforto.
Não se deve subestimar a importância da relaxação.
Os iogues compreenderam que é impossível alcançar qualquer iluminação espiritual se o indivíduo não tiver o espírito firme e calmo e os músculos estiverem tensos e rígidos, por isso imaginaram exercícios físicos e mentais especiais que fazem repousar gradualmente o espírito e os músculos, que permitem dominar pensamentos e emoções, assim como contribuir para flexibilizar músculos e articulações endurecidas.
A prática destes exercícios permite abandonar e por de lado pensamentos desagradáveis que nos querem dominar.
Quem aprende a repousar fica na posse do segredo da vida longa, feliz e sadia.
Como repousar?
  1. Tiramos o casaco, os sapatos, desapertar o cinto e a gola (trocar de roupa por uma confortável),  deitar no chão (tapete, lençol) num ambiente semi-escuro, preferindo um chão duro a um colchão macio, espreguiçamo-nos levando os braços para trás por cima da cabeça e esticamos as pernas de forma a tornar o corpo bem rígido, 
  2. Depois repentinamente deixamos cair as mãos ao longo do corpo e repousar,
  3. De olhos fechados concentramo-nos nas pontas dos dedos dos pés e procuramos repousá-los, imaginando que os músculos dos pés, das pernas e coxas gradualmente entram em repouso como se fossem imersos em água morna. Depois fazemos o mesmo para as costas, coluna e ombros, seguidos dos braços, mãos e pontas dos dedos,  
  4. Deixamos o queixo cair de forma a repousar os músculos do rosto e imaginamos o corpo a ficar cada vez mais pesado, como se mergulha-se no chão e não se senti-se mais o seu peso. Fica-se assim alguns minutos, 
  5. Agora imaginamos que somos leves como uma nuvem flutuando no céu e findo algum tempo abandonamos esta visão, procurando conservar o espírito tão vazio como possível mas sem repelir pensamentos que se introduzam, deixando-os apenas passar, mergulhando em completo esquecimento,
  6. Ficamos assim repousados e antes de nos levantar espreguiçamo-nos abrindo a boca. Voltamos para o lado direito e arqueamos as costas, fazemos o mesmo para o lado esquerdo e espreguiçamos de novo, ficando deitados e quieto por mais uns momentos, 
  7. Depois sentamos e levantamo-nos vagarosamente, sem pressas.
Relaxamento profundo:
  • Induz uma resposta de relaxamento semelhante à hibernação 
  • Alivia o stress  
  • Reduz a pressão sanguínea  
  • Fortalece o coração  
  • Relaxa os nervos e músculos  
  • Diminui a necessidade de dormir 
O relaxamento profundo é especialmente benéfico para as pessoas que fazem muito trabalho mental, podes fazer as vezes que quiseres durante o dia.
Em qualquer altura em que nos sintamos mentalmente fatigado, mesmo uns poucos minutos dedicados à relaxação poderão ser suficientes para nos reavivar. 
Regime alimentar
A alimentação correcta, depois da respiração correcta é o que mais há de essencial para conservar a boa saúde e disposição. Somos o que comemos.
O açúcar é um dos venenos com que o mundo ocidental presenteou as nossas mesas e com toda a desinformação e publicidade que veio poluir as nossas mentes nos últimos 50 anos perdemos a sabedoria tradicional de comer o que nos faz bem, as pessoas já não sabem como nem o que comer, precisamos de uma reeducação alimentar.
Até grande parte das pessoas que procuram tornar-se vegetarianas fazem-nos às escuras, passados anos ainda continuam a misturar no mesmo prato seitan com massa ou arroz, tofu com feijão, etc...
Estão a comer o mesmo! um cereal com um cereal, uma leguminosa com uma leguminosa.
Nos supermercados temos prateleiras cheias, impera a abundância de lixo processado feito para durar meses ou anos na sua embalagem, isto não é comida.
Não existe regime alimentar universal, cada um de nós tem de realizar experiências e descobrir o que funciona com o nosso organismo,  no entanto:
  • Evitar fritos e doces, comida empacotada, embalada ou enlatada é uma atitude óbvia para quem procura saúde, 
  • Não comer demais porque dificulta a digestão e a torna menos eficiente, 
  • Preferir os produtos integrais, com casca, 
  • Preferir os vegetais, leguminosas, frutos secos e sementes aos cereais pois estes têm uma alta carga glicémica que estimula uma grande libertação de insulina. Contudo, pessoas com uma vida muito activa e um metabolismo acelerado comem muitos cereais e comidas com alta carga glicémica sem ganhar peso e podem mesmo não sofrer dos problemas que esta questão normalmente trás (diabetes, obesidade, processos inflamatórios, etc), mas é preciso ter em conta que estas pessoas não são a regra,
  • Não comer uma grande variedade de alimentos na mesma refeição que só confunde e dificulta a digestão, 
  • Comer devagar, mastigar bem com a devida salivação, assim como respirar tranquilamente e profundamente enquanto se come.
Diz-se que a hora da refeição é uma hora sagrada e faz sentido pois este é o momento em que o nosso organismo se nutre. 
Stress, pressa ou ansiedade em comer só dificultam a digestão e tornam-na menos eficiente, impossibilitando o nosso organismo de retirar os nutrientes que necessita dos alimentos de forma conveniente.
Vince Gironda recomendava inclusive comer sentado com os pés em cima de um banco de forma a aumentar a concentração de sangue no aparelho digestivo.
A questão dos jejuns também é encorajada na disciplina do Ioga, mas vamos deixar isto para outro texto mais concreto e investigativo. 
Meditação
A meditação pode ser definida como uma prática na qual o indivíduo utiliza técnicas para focar a sua mente num objecto, pensamento ou actividade em particular, visando alcançar um estado de clareza mental e emocional.
A sua origem é muito antiga, remontando às tradições orientais, especialmente o Ioga, mas o termo também se refere a práticas adoptadas por alguns caminhos espirituais ou religiões, como o budismo, cristianismo, entre outras. 
Textos orientais consideram a meditação como um instrumento que nos leva em direcção à libertação.
Basicamente consiste em nos sentarmos num sitio silencioso e semi-escuro ou escuro, em cima de um tapete, lençol ou algo que amorteça o nosso rabo e respirarmos profundamente e ritmicamente.
Cruzamos simplesmente as pernas ou, para quem consegue, ficamos em posição de lótus ou semi-lótus, com as costas direitas.
Depois da respiração estar estabelecida tentamos acalmar a nossa mente, deixá-la vazia de pensamentos, o que é extremamente difícil, pois vivemos numa sociedade onde se encoraja o ritmo frenético, tentamos fazer sempre muitas coisas ao mesmo tempo.
O segredo é não nos deixarmos levar nos pensamentos que surgem na nossa mente, contemplá-los e deixá-los partir como uma nuvem, mas sem viajarmos nela nem tecermos juízos de valor.
Seja o almoço que temos de preparar para amanhã, o email ou telefonema que temos de fazer, tudo isso tem de sumir, pois neste momento estamos num mundo à parte, dedicando toda a nossa atenção a nós mesmo sem interferência exterior. Pelo menos é disto que nos temos de convencer.
Fica mais fácil se nos concentrarmos na respiração, observarmos o ar a entrar, a ser retido, a sair, etc...
Distrairmo-nos é normal, sermos levados na tal nuvem será tema recorrente, mas constatar isso é bom sinal, significa que nos estamos a esforçar para focar, temos de simplesmente nos dominar e voltar ao início.
Esta resistência é sinal que pelo menos durante uns segundos mantivemos o foco e esse tempo irá aumentar...conseguiremos com a prática frequente aumentar esse tempo para muitos segundos ou poucos minutos passados numa calma concentração e desta querela vai nascer maior capacidade de foco e resistência em momentos de stress, onde mais facilmente conseguiremos dominar as nossas emoções ou não ser completamente tomados por elas.
O treino tem de ser frequente e não precisa de ser exaustivo, 5 minutos por dia ao acordar ou antes de dormir, ou nos dois momentos. Com o tempo apanhamos o gosto e procuramos fazê-lo mais vezes por mais tempo.
Pessoalmente gosto de fazer um sessão de Ioga de 45 minutos e no final fazer mais 10 minutos de meditação.
O Ioga como que prepara a mente e o corpo para receber a tranquilidade da meditação. 
Os dois juntos deixam-me no céu.
Quando estamos a passar por um momento especialmente tenso ou angustiante fica quase impossível meditar, a concentração é zero porque estamos afligidos e a mente está sempre a recordar-nos do que nos está a molestar, tentamos pô-lo em segundo plano mas é difícil.
Mais importante se torna tentar meditar nestes momentos, poderá parecer infrutífero mas é aqui que se colhem os melhores frutos, 5 segundos de foco num momento aflitivo valem por 5 minutos inteiros num momento tranquilo porque o esforço empregue é muito maior.
Qualquer pessoa será capaz de meditar e ser ''Zen'' num momento em que tudo lhe corre de feição certo? É na adversidade que se põe à prova a nossa capacidade de concentração e o domínio que temos (ou não temos) sobre as nossas emoções e processos mentais.
Muito mais poderia ser dito do Ioga, uma tradição e disciplina milenar que contiua a evoluir à medida que cada aluno lhe acrescenta algo e se formam várias ''escolas'' com diferentes maneiras de encarar a tradição.
No entanto considero estes aspectos como sendo básicos e inegáveis, mas tudo o que estiver relacionado com o bem estar físico, mental, psicológico ou busca espiritual é susceptível de ser assimilado no Ioga.

Pirâmide dos Alimentos VS Roda dos Alimentos


A pirâmide dos alimentos e a roda dos alimentos são duas representações de uma alimentação supostamente saudável e às quais fomos apresentados na escola.
Parecidas mas não iguais, vamos analisar as suas diferenças e perceber como estas têm sido ''manobradas'' pela indústria alimentar para melhor servir os ''seus'' interesses em vez dos ''nossos''.
Pirâmide dos alimentos
A pirâmide dos alimentos é um diagrama triangular que representa o número óptimo de porções a serem comidas, por dia, de cada grupo de alimentos.
Os grupos de alimentos que compõe esta pirâmide são:

Alimentos
Porções diárias
Peso
Pães, cereais e massas
6 a 11
41,5%
Vegetais
3 a 5
19,5%
Frutas
2 a 4
14,6%
Leite e derivados
2 a 3
12,2%
Carne, peixe, ovos, frutos secos e leguminosas
2 a 3
12,2%
Óleos, gorduras e doces
Usar esporadicamente
-

Esta primeira pirâmide foi publicada na Suécia em 1974 e introduzida nos Estados Unidos pela USDA (departamento da agricultura dos EUA) em 1992 com o nome ''Food Guide Pyramide''.
Veio seguir a ideia de que existem comidas ''básicas ou essenciais'' que são baratas e nutritivas e comidas ''suplementares'' que adicionam nutrientes às comidas ''básicas''.
Com o passar dos tempos muda o conceito do que é saudável e essencial e esta primeira pirâmide foi criada numa altura em que se acreditava que as gorduras e o colesterol contido nos alimentos estavam na base dos problemas cardiovasculares, cancerígenas e outros relacionados com os processos inflamatórios.
Por este motivo os carboidratos de alta carga glicémica encontram-se na sua base (41,5%) e pouco destaque é atribuído à carne, peixe, ovos, derivados e outras gorduras.
Isto suscitou alguma polémica nos Lobbys da indústria da carne e derivados animais que conseguiram adiar a sua publicação.
Quando esta se tornou inevitável, os referidos Lobbies conseguiram mudar de forma subtil o seu grafismo, cor e tamanho dos desenhos de forma a dar destaque aos seus produtos, compensando o seu peso minoritário na pirâmide.
O facto de a base ser composta por alimentos de alta carga glicémica (carboidratos complexos) que estimulam uma grande libertação de insulina, em conjunto com a fraca representação das gorduras saudáveis (frutos secos, sementes, azeite, ovos, manteiga, etc) veio trazer a necessidade de mudar esta ''ultrapassada'' pirâmide, de acordo com as mais recentes pesquisas e estudos na área da saúde e nutrição.
Foi trocada pela ''My Pyramid'' em 2005, com as seguintes diferenças:

Veio aumentar a importância da categoria de leite e derivados, igualando o seu consumo ao dos vegetais.
Em 2011 foi substituída pelo MyPlate (meu prato), versão que ainda vigora.
Esta versão veio mudar a representação gráfica e consiste num prato com 4 divisões acompanhado de um círculo representando um copo.
Perfaz 5 grupos de alimentos, com as seguintes distribuições:

  • Cereais (30%), 
  • Vegetais (40%),  
  • Frutas (10%),  
  • Proteína (20%),  
  • Leite ou iogurte, uma espécie de reforço na alimentação, não tem percentagem atribuída, apenas figura na imagem do copo.
Simplificada, esta versão veio acompanhada de slogans como:  
  • ''Garante que metade do teu prato é composto de vegetais e cereais'', 
  • ''Usa leite e derivados magros'',  
  • ''Varia as tuas fontes de proteína'',  
  • ''Certifica-te que pelo menos metade dos teus cereais são integrais''.
Algumas críticas:
  • As pirâmides hierarquizam os alimentos, aludindo à ideia de que uns alimentos são mais importantes do que outros, quando se deve dar igual importância a todos, 
  • As gorduras saudáveis não podem estar na mesma categoria que os doces, é sinónimo de completa ignorância no que diz respeito à saúde alimentar (Pirâmide de 1992),  
  • O leite e os derivados não podem ter o mesmo peso numa alimentação que os vegetais, é absurdo (Pirâmide de 2005),  
  • Não faz sentido em qualquer uma destas representações os cereais (alta carga glicémica) terem maior peso que as leguminosas (menor carga glicémica) e de estas estarem no mesmo grupo que a carne/peixe/ovos,
Como foi apontado, estas representações gráficas misturam a ciência e a influência da indústria alimentar, o que explica a importância dada insistentemente aos cereais e lacticínios.
Roda dos alimentos
A Roda dos Alimentos é uma representação gráfica criada em Portugal em 1977, no âmbito da Campanha de Educação Alimentar "Saber comer é saber viver", que ajuda a escolher e combinar os alimentos que deverão fazer parte da alimentação diária.
Tem uma forma circular, o que assemelha facilmente a um prato, precedendo a actual forma americana em 25 anos!
Na opinião dos especialistas nacionais a pirâmide não representa aquilo que deve ser uma alimentação saudável, ou seja, completa, equilibrada e variada, devido à questão da hierarquização dos alimentos já referida.
Esta antecipação e visão portuguesa é, na minha opinião, demonstrativa do peso dos interesses da indústria alimentar nos EUA, que conseguiram atrasar em mais de duas décadas todo o senso comum em relação à saúde nutricional.
A roda original continha 5 grupos de alimentos divididos em percentagem:

Alimentos
Percentagem
Cereais e leguminosas
30%
Hortaliças, legumes e frutos
40%
Leite e derivados
15%
Carne, peixe, ovos
10%
Óleos e gorduras
5%
 
Apesar de visionária para a época esta roda tem coisas que podiam ser melhoradas, tais como:
  • Separar as leguminosas dos cereais (os primeiros têm menor carga glicémica), 
  • Separar as frutas dos restantes vegetais (os vegetais têm de ser os principais carboidratos da nossa dieta, as frutas são um complemento),  
  • Diminuir a importância dos leites e derivados, ao mesmo tempo que se aumenta a importância da carne/peixe/ovos e das gorduras saudáveis (frutos secos, sementes, azeite de primeira extracção, etc).
Invocando a evolução dos conhecimentos científicos e as diversas alterações na situação alimentar portuguesa justificou-se a necessidade da reestruturação da roda.
A nova Roda dos Alimentos (2003) mantém o seu formato original e associa-se ao prato vulgarmente utilizado, à semelhança do MyPlate americano (precedendo-a em 8 anos).

A nova versão subdivide alguns dos anteriores grupos e estabelece porções diárias equivalentes, para além de incluir a água no centro desta nova representação gráfica:


Alimentos
Porções diárias
Peso
Cereais e derivados, tubérculos
4 a 11
30,6%
Hortícolas
3 a 5
16,3%
Frutas
3 a 5
16,3%
Leite e derivados
2 a 3
10,2%
Carne, peixe e ovos
1,5 a 4,5
12,2%
Gorduras e óleos
1 a 3
8,2%
Leguminosas
1 a 2
6,1%


Podemos observar que algumas coisas mudaram.
A inclusão das porções é algo que me faz confusão...o que são porções? Como quantificá-las?
4 porções grandes serão maiores que 11 porções pequenas, há aqui espaço para subjectivação que gerará má interpretação.
Observamos também a inclusão da água no centro da roda e a criação de dois novos grupos, o das leguminosas (que antes estavam englobados com os cereais) e o das frutas (antes englobados com os vegetais/hortaliças e legumes).
Esta divisão, como invoquei anteriormente, faz sentido porque:

  • As leguminosas têm menor carga glicémica e portanto devem ter um consumo preferível aos cereais (massas e pães) e tubérculos, 
  • As frutas, que embora tenham baixa carga glicémica, têm um índice glicémico alto e por esse motivo não devem ser consumidas em tão grande quantidade como os produtos hortícolas.
Temos de concordar que comer brócolos não é a mesma coisa que comer bananas certo?
Os primeiros têm de ter uma maior expressão no nosso prato, em nome da saúde.
No entanto estas divisões carregam água no bico...
Vieram aparentar uma preocupação com a saúde mas no fundo servir o interesse da indústria alimentar, que talvez tenha ganho maior poder em Portugal desde a primeira roda dos alimentos de 1977.

Vamos analisar o próximo gráfico onde eu volto a juntar as categorias separadas, mas mantenho as porções de 2003 (em percentagem), comparando-as com as de 1977:


Alimentos
Roda 1977
Roda 2003
Cereais e leguminosas:
- Cereais e derivados, tubérculos
- Leguminosas
30%
-
-
42,8%
36,7%
6,1%
Hortaliças, legumes e frutos:
- Hortícolas
- Frutas
40%
-
-
32,7%
16,3%
16,3%
Leite e derivados
15%
10,2%
Carne, peixe e ovos
10%
12,3%
Gorduras e óleos
5%
8,2%
 
O que podemos observar?
  • Que separaram as leguminosas da categoria dos cereais para estes ganharam uma maior expressão, passaram de 15% para 36,7%, 
  • As leguminosas passaram de 15% para apenas 6,1% com esta alteração,  
  • Os vegetais (legumes, hortaliças) que deviam compor a maior parte dos nossos carboidratos (baixa carga glicémica) ao integrarem grupo próprio passaram de mais de 20% para 16,3% (igual às frutas, não faz sentido),  
  • O leite e os derivados diminuíram (o que faz sentido) e a carne/peixe/ovos e as gorduras vêem o aumento do seu consumo recomendado (apenas faria sentido se diminuíssem o consumo dos cereais).
Será que as novas mudanças fazem sentido?
Tendo em conta o aumento da população obesa em Portugal, bem como das doenças inflamatórias, a nova roda dos alimentos têm de ser mais consciente em relação ao alimentos de alta carga glicémica.
Alimentos como o pão, massas, farinhas e batatas (cereais e tubérculos) promovem este tipo de problemas de saúde numa população sedentária e afogada em comida processada e enlatada.
E quanto mais refinados forem estes produtos, pior.
Neste sentido é incompreensível como um organismo governativo chamado Direcção Geral de Saúde pode promover o aumento do consumo destes alimentos em detrimento das leguminosas (feijões, grão, etc) que são tão nutritivas como os cereais mas com menor carga glicémica.
Aumentar o consumo de carne e peixe ao mesmo tempo que o dos cereais é estar a sobrecarregar uma alimentação de proteína e carboidratos, ou se come carne e peixe e se privilegiam as saladas e legumes, ou se ''carrega'' nos cereais e se alivia a carne/peixe/ovos, temos de ter em conta que isto é uma roda para a população geral, sedentária e envelhecida, não para jovens atletas que necessitam de recarregar baterias com calorias.
Da mesma maneira que diminuir o consumo de vegetais e legumes (produtos hortícolas), fontes de micronutrientes e carboidratos de baixa carga glicémica é contra todo o bom senso...é aqui que deve residir a maior parte da nossa alimentação e dos nossos carboidratos consumidos...
Além de os reduzirem recomendam igual consumo às frutas...incompreensível.

  • Acho que se continua a desvalorizar alimentos como os frutos secos, boas fontes de lípidos e proteínas (bem como sais minerais), 
  • Gorduras vegetais como as margarinas e os óleos alimentares refinados (girassol, amendoim, soja, etc) são veneneos que têm de ser erradicados, marcas como a Becel e a Fula devem ter um peso importante para este lixo continuar a ser recomendado a nível oficial,  
  • Do reino vegetal apenas o azeite, o óleo de coco e outros frutos de primeira extracção devem ser consumidos e do reino animal a manteiga, queijo e outras gorduras animais saturadas pois estas mantêm as suas propriedades na temperatura ambiente e não são modificadas quimicamente (hidrogenadas).
Mas então como deveria ser a roda dos alimentos?
Não é fácil traçar uma recomendação geral para uma população, pois diferentes pessoas têm diferentes necessidades e gastos energéticos bem como diferentes biotipos:
  • Uma criança não tem as mesmas necessidades que um idoso, da mesma forma que um trabalhador da construção civil gasta mais energia no exercício da sua função do que um funcionário de escritório, 
  • Atletas, crianças e pessoas com uma vida mais activa devem ter uma maior proporção de alimentos de alta carga glicémica (cereais integrais e tubérculos) do que uma camada mais sedentária ou idosa da população,
Não temos de comer todos os alimentos todos os dias, não existe uma recomendação possível que os englobe a todos, pois eles são interdependentes.
Daí ter referido que todos os alimentos são igualmente importantes e que a recomendação depende do que temos disponível e do que estamos a pensar comer no dia de hoje...
Se comer muito de um alimento que representa determinada classe de nutrientes, posso e devo baixar o consumo de outros alimentos que representem a mesma classe.
Se comer peixe não preciso de acrescentar carne no mesmo prato certo? Pertencem à mesma classe então torna-se óbvio...
Mas se comer laticínios, leguminosas e cereais numa refeição (arroz integral com feijão e queijo por exemplo), não precisaremos de incluir carne/peixe/ovos e gorduras na mesma, pois todos os nutrientes se encontram bem representados (proteína, carboidratos e lípidos bem como micronutrientes).
Da mesma forma se comermos proteína animal e vegetais numa refeição (peixe com ovo cozido e uma salada de bróculos, tomate e couve roxa por exemplo), não precisaremos de incluir leguminosas ou cereais...
Porque temos as gorduras e proteína do peixe e ovos, os carboidratos dos vegetais e os macronutrientes de todos estes alimentos.
Mas como a gestão correta de uma alimentação a nível individual requer conhecimento, informação e sabedoria, e como a industria alimentar e farmacêutica quer as pessoas ignorantes e consegue contrapor qualquer recomendação por mais bem intencionada e saudável que seja através de publicidade milionária desenvolvida por peritos em psicologia com os seus jogos de cor, ritmos, melodias e slogans, talvez a Roda dos Alimentos oficial seja um ''mal-necessário''.
Posto isto, se tivesse que elaborar uma recomendação geral, apostaria no seguinte:

Alimentos
Peso
Cereais e derivados, tubérculos
15%
Hortícolas
25%
Frutas
10%
Leite e derivados
10%
Carne, peixe e ovos
15%
Gorduras e óleos
10%
Leguminosas
15%

Como podemos reparar:
  • Diminuí o peso dos cereais e tubérculos, bem como das frutas, 
  • Aumentei as leguminosas, vegetais, óleos e gorduras (frutos secos, sementes e azeite), bem como de proteína animal (carne, peixe, ovos).
Podemos alterar esta distribuição, adaptando-a a diferentes pessoas, da seguinte maneira:
  • Pessoas mais ativas (atletas, crianças, profissões com grande atividade física) podem aumentar o consumo de cereais e tubérculos, bem como leguminosas, em detrimento de outras categorias,  
  • Pessoas menos ativas (idosos, profissões sedentárias) ou que querem/precisam de perder peso devem diminuir ainda mais o consumo de laticínios, de cereais e tubérculos, aumentando a proteína animal, os produtos hortícolas e as gorduras saudáveis.  
Todas as refeições devem conter em alguma quantidade todos os macronutrientes (carboidratos, lípidos e proteína).
No fundo o que estou a dizer é que o importante numa refeição é estarem representados os nutrientes que precisamos, na quantidade que iremos usar (que é pessoal), independentemente dos alimentos e categorias a que estes pertencem.
Claro que isto obriga a conhecimento e sabedoria, mas não é esse um dos objetivos desta nossa curta passagem por este mundo?
Sabermos o que nos faz bem e o que optimiza o funcionamento da máquina para podermos aproveitar o nosso tempo a 100%, sem doenças e enfermidades.
Infelizmente os poderes económicos querem as pessoas ignorantes, doentes e obesas, a precisar de personal trainers, de suplementos, de medicamentos e consumidoras de comida processada que vai dar clientes a todas estas áreas.

Conhecimento é poder