Ioga

Para introduzir e explicar o que é o Ioga vou basear-me no livro que li da Indra Devi, professora de Ioga do século XX que é tida como a primeira ocidental a ensinar este sistema de treinamento físico e mental.
O livro chama-se ''Forever Young Forever Healthy''.
Ioga é um dos mais antigos sistemas de treinamento físico, mental e espiritual. Teve origem na Índia há milhares de anos, não é religião ou credo, nem tão pouco tem templos, ritos ou dogmas.
É um processo de auto-realização que começa pela perfeição do corpo e termina com o desdobramento do espírito, pode ser feito por toda a gente, independentemente da fé que tenham, seja Cristã, Judaica, Muçulmana, Budista, Hindu, Agnóstica ou Ateia, o Ioga é benéfico a toda a espiritualidade.
Manteve-se intacto e protegido de influências externas durante milhares de anos devido à sua característica esotérica, de ensinamentos secretos comunicados a discípulos que passavam anos com os seus Gurus (guias e mestres espirituais), a quem deviam obediência e a quem a compensação monetária pouco ou nada interessava.
Só nos últimos 100 anos temos a disseminação do Ioga em aulas a troco de dinheiro.
Na Índia antiga os iogues (pessoas que praticam Ioga) formavam um grupo de místicos e cientistas para quem a relação entre o homem mortal e o espírito imortal tinha grande importância. 
Esforçaram-se por achar o meio de unir conscientemente os dois durante a vida do homem sobre a terra e passaram séculos a realizar experiências com diversos meios de relaxação, concentração e meditação, várias maneiras de respirar, diversos regimes alimentares, jejuns e exercícios físicos e espirituais. 
Quando atingiram  êxito com os seus esforços, sistematizaram os resultados das descobertas chamando-os de Ciência do Ioga.
O objectivo do Ioga é conseguir a união entre o homem (finito) e o espírito (infinito), da consciência individual com a consciência cósmica.
Existem vários Iogas que se concentram em diferentes aspectos com diferentes objectivos, entre eles existe o Hatha Ioga que se foca no treinamento para o bem estar-físico, ideal para uma pessoa ocidental se iniciar, pois é menos filosófica e mística e serve como um primeiro degrau na escada, por assim dizer.
O Hatha Ioga tem uma mensagem iluminadora e prática para o mundo ocidental fatigado e inquieto.
No Hatha Ioga começa-se por aprender a respirar correctamente, como e o que comer, como repousar e exercitar o corpo e a mente.
O ensino de Hatha Ioga faz-se por estágios:
  • Posturas (asanas) 
  • Controlo da respiração (pranayama) 
  • Controlo dos nervos (prabyahara) 
  • Controlo do espírito (dharana) 
  • Meditação (dhyiana) 
  • Alcance do esclarecimento (samadhi)
Posturas/Asanas  
Em Sânscrito, as posturas de ioga são designadas de asanas.
Asana refere-se a uma postura que dá conforto físico e compostura mental.
Sem a respiração profunda e ritmada e o significado profundamente psicológico que acompanha as asanas, os exercícios ficam reduzidos a simples movimentos mecânicos, por este motivo é que aos nossos olhos eles se assemelham a meros alongamentos, não vemos a intenção psicológica e motivação espiritual que move o praticante que os está a executar.
As asanas têm efeitos de longo alcance, tanto fisiológicos quanto psicológicos, afectam não só a oxigenação e a circulação do sangue e dos processos digestivos, como as funções do sistema inteiro, mesmo o pensamento e a capacidade mental, normalizando as funções de todos os órgãos e glândulas, especialmente as endócrinas, às quais cabe o equilíbrio metabólico do corpo, o peso e a forma.
Existem muitos benefícios físicos mas o efeito mais proeminente é o efeito mental, pois o equilíbrio resultante da prática de asanas facilita a concentração e a meditação e, desta forma, ajuda a preparar a mente para a meditação. 
A asana deve ser firme e confortável, sem causar nenhum tipo de desconforto, qualquer retesamento ou tensão observada no corpo deve ser conscientemente relaxada.
A respiração deve ser normal e ritmada e o período em que um praticante se mantém estável na asana é denominado tempo de permanência e medido pela quantidade de respirações (inspiração, retenção e expiração) realizadas.
Durante a sua prática o corpo deverá estar fresco e calmo, o estômago não deverá estar cheio, o local deverá estar arejado e não deverá haver fumo no ar.
 
Para alguns exemplos dêem uma olhada neste site.
Respiração/Pranayama
Prana significa respiração, absoluta energia...ayama quer dizer retenção, pausa. 
Pranayama consiste em certa maneira de aspirar e expirar o ar e de reter a respiração.
Todas as actividades do corpo, desde a digestão ao pensamento criativo dependem de oxigénio, o ar é o alimento mais importante do sangue que por sua vez alimenta as células, tecidos, nervos, etc.
Apesar disto tratamos a respiração com completa indiferença, sem prestar-lhe a devida atenção.
Aspirar profundamente algumas vezes por dia ajuda-nos a pensar com clareza, a digerir melhor os alimentos, a gozar de melhor saúde...
Esta constitui uma maneira especial de tomar uma respiração completa, diferente de outro tipo de respiração, tem o poder de encher inteiramente os pulmões e em seguida esvaziá-los, denominando-se ''respiração rítmica profunda'' quando se realiza conforme o ritmo do próprio coração.
Esta maneira de respirar profundamente conjuga-se a todas as asanas e exercícios iogues, executando-se também separadamente como exercício de respiração.
Com o Ioga aprendemos a controlar o ritmo próprio e a protegê-lo de influências perturbadoras, nas grandes cidades é o andamento anormalmente rápido, frenético ou a influência de muitas vibrações opostas que perturbam o ritmo de uma pessoa.
A importância, como em tudo, não reside só no que fazemos mas como o fazemos, ou seja, a atitude mental certa.
Por exemplo, quando se inspira profundamente deve-se imaginar que se está a inspirar também as qualidades desejadas, saúde, coragem, força, tranquilidade, paz de espírito, etc, e quando se expira deve-se imaginar que expelimos condições indesejáveis como a moléstia, temor, aborrecimento, stress, ansiedade, inquietação, etc.
Esta respiração rítmica é um exercício, não é suposto respirar-se assim o dia todo ou fora de altura apropriada para o concentração consciente e emprego destas técnicas.
Deve-se realizá-la num quarto bem ventilado ou diante de uma janela aberta, se não fizer muito frio. É preciso não fazê-lo com o estômago cheio nem usar roupas justas ou cintos apertados.
A posição ideal é a postura de lótus se for possível realizá-la sem esforço (o que é difícil para a maior parte de nós). 
A posição de meio lótus ou sentado de pernas simplesmente cruzadas também serve perfeitamente, num tapete ou lençol dobrado, com as mãos ou pulsos assentes nos joelhos. 
Manter a coluna direita é de extrema importância e corrige a postura.
Para estabelecerem o ritmo da vossa respiração ponham a mão no vosso pulso e contem as pulsações, comecem num ritmo de 4 pulsações para inspirar e 4 pulsações para expirar.
Podem aumentar o tempo que demoram a completar cada respiração à medida que progredirem.
A respiração deve ser leve e fluída e não aos solavancos a tentar acompanhar o ritmo das pulsações.
No início não realizem muitas respirações profundas de uma só vez, vão construindo o vosso ritmo com calma.
Ao inspirar procurem encher a barriga e só depois desta esgotar a capacidade de receber ar se deve preencher o resto dos pulmões ''enchendo o peito''.  A expiração segue a lógica inversa.
Dependendo do exercício varia o tempo de retenção do ar entre a inspiração e a expiração.
Para terem uma ideia vejam este filme. 
Relaxação
Perante situações menos boas que nos acontecem na vida ficamos preocupados e tensos e se isso gerar dificuldade em repousar o stress e ansiedade poderão pôr em causa a nossa capacidade de enfrentar e desbloquear essas situações. Daqui resulta um efeito em espiral que se vai agravando, o espírito fica dominado e perdemos a capacidade de ver claramente.
No mundo moderno o stress tornou-se um estímulo, trabalhamos às pressas, comemos às pressas, fazemos amor às pressas e descansamos às pressas, perde-se a arte de contemplar a vida, perde-se o significado e o sentido.
Muitas das insónias, perturbações nervosas, prisões de ventre, indigestões, enxaquecas, entre outras têm a sua origem na incapacidade de conseguir relaxar, a medicina moderna prescreve drogas para aliviar os sintomas, não procura encontrar e resolver as causas do problema, já não cuidamos da saúde, simplesmente gerimos a dor e o desconforto.
Não se deve subestimar a importância da relaxação.
Os iogues compreenderam que é impossível alcançar qualquer iluminação espiritual se o indivíduo não tiver o espírito firme e calmo e os músculos estiverem tensos e rígidos, por isso imaginaram exercícios físicos e mentais especiais que fazem repousar gradualmente o espírito e os músculos, que permitem dominar pensamentos e emoções, assim como contribuir para flexibilizar músculos e articulações endurecidas.
A prática destes exercícios permite abandonar e por de lado pensamentos desagradáveis que nos querem dominar.
Quem aprende a repousar fica na posse do segredo da vida longa, feliz e sadia.
Como repousar?
  1. Tiramos o casaco, os sapatos, desapertar o cinto e a gola (trocar de roupa por uma confortável),  deitar no chão (tapete, lençol) num ambiente semi-escuro, preferindo um chão duro a um colchão macio, espreguiçamo-nos levando os braços para trás por cima da cabeça e esticamos as pernas de forma a tornar o corpo bem rígido, 
  2. Depois repentinamente deixamos cair as mãos ao longo do corpo e repousar,
  3. De olhos fechados concentramo-nos nas pontas dos dedos dos pés e procuramos repousá-los, imaginando que os músculos dos pés, das pernas e coxas gradualmente entram em repouso como se fossem imersos em água morna. Depois fazemos o mesmo para as costas, coluna e ombros, seguidos dos braços, mãos e pontas dos dedos,  
  4. Deixamos o queixo cair de forma a repousar os músculos do rosto e imaginamos o corpo a ficar cada vez mais pesado, como se mergulha-se no chão e não se senti-se mais o seu peso. Fica-se assim alguns minutos, 
  5. Agora imaginamos que somos leves como uma nuvem flutuando no céu e findo algum tempo abandonamos esta visão, procurando conservar o espírito tão vazio como possível mas sem repelir pensamentos que se introduzam, deixando-os apenas passar, mergulhando em completo esquecimento,
  6. Ficamos assim repousados e antes de nos levantar espreguiçamo-nos abrindo a boca. Voltamos para o lado direito e arqueamos as costas, fazemos o mesmo para o lado esquerdo e espreguiçamos de novo, ficando deitados e quieto por mais uns momentos, 
  7. Depois sentamos e levantamo-nos vagarosamente, sem pressas.
Relaxamento profundo:
  • Induz uma resposta de relaxamento semelhante à hibernação 
  • Alivia o stress  
  • Reduz a pressão sanguínea  
  • Fortalece o coração  
  • Relaxa os nervos e músculos  
  • Diminui a necessidade de dormir 
O relaxamento profundo é especialmente benéfico para as pessoas que fazem muito trabalho mental, podes fazer as vezes que quiseres durante o dia.
Em qualquer altura em que nos sintamos mentalmente fatigado, mesmo uns poucos minutos dedicados à relaxação poderão ser suficientes para nos reavivar. 
Regime alimentar
A alimentação correcta, depois da respiração correcta é o que mais há de essencial para conservar a boa saúde e disposição. Somos o que comemos.
O açúcar é um dos venenos com que o mundo ocidental presenteou as nossas mesas e com toda a desinformação e publicidade que veio poluir as nossas mentes nos últimos 50 anos perdemos a sabedoria tradicional de comer o que nos faz bem, as pessoas já não sabem como nem o que comer, precisamos de uma reeducação alimentar.
Até grande parte das pessoas que procuram tornar-se vegetarianas fazem-nos às escuras, passados anos ainda continuam a misturar no mesmo prato seitan com massa ou arroz, tofu com feijão, etc...
Estão a comer o mesmo! um cereal com um cereal, uma leguminosa com uma leguminosa.
Nos supermercados temos prateleiras cheias, impera a abundância de lixo processado feito para durar meses ou anos na sua embalagem, isto não é comida.
Não existe regime alimentar universal, cada um de nós tem de realizar experiências e descobrir o que funciona com o nosso organismo,  no entanto:
  • Evitar fritos e doces, comida empacotada, embalada ou enlatada é uma atitude óbvia para quem procura saúde, 
  • Não comer demais porque dificulta a digestão e a torna menos eficiente, 
  • Preferir os produtos integrais, com casca, 
  • Preferir os vegetais, leguminosas, frutos secos e sementes aos cereais pois estes têm uma alta carga glicémica que estimula uma grande libertação de insulina. Contudo, pessoas com uma vida muito activa e um metabolismo acelerado comem muitos cereais e comidas com alta carga glicémica sem ganhar peso e podem mesmo não sofrer dos problemas que esta questão normalmente trás (diabetes, obesidade, processos inflamatórios, etc), mas é preciso ter em conta que estas pessoas não são a regra,
  • Não comer uma grande variedade de alimentos na mesma refeição que só confunde e dificulta a digestão, 
  • Comer devagar, mastigar bem com a devida salivação, assim como respirar tranquilamente e profundamente enquanto se come.
Diz-se que a hora da refeição é uma hora sagrada e faz sentido pois este é o momento em que o nosso organismo se nutre. 
Stress, pressa ou ansiedade em comer só dificultam a digestão e tornam-na menos eficiente, impossibilitando o nosso organismo de retirar os nutrientes que necessita dos alimentos de forma conveniente.
Vince Gironda recomendava inclusive comer sentado com os pés em cima de um banco de forma a aumentar a concentração de sangue no aparelho digestivo.
A questão dos jejuns também é encorajada na disciplina do Ioga, mas vamos deixar isto para outro texto mais concreto e investigativo. 
Meditação
A meditação pode ser definida como uma prática na qual o indivíduo utiliza técnicas para focar a sua mente num objecto, pensamento ou actividade em particular, visando alcançar um estado de clareza mental e emocional.
A sua origem é muito antiga, remontando às tradições orientais, especialmente o Ioga, mas o termo também se refere a práticas adoptadas por alguns caminhos espirituais ou religiões, como o budismo, cristianismo, entre outras. 
Textos orientais consideram a meditação como um instrumento que nos leva em direcção à libertação.
Basicamente consiste em nos sentarmos num sitio silencioso e semi-escuro ou escuro, em cima de um tapete, lençol ou algo que amorteça o nosso rabo e respirarmos profundamente e ritmicamente.
Cruzamos simplesmente as pernas ou, para quem consegue, ficamos em posição de lótus ou semi-lótus, com as costas direitas.
Depois da respiração estar estabelecida tentamos acalmar a nossa mente, deixá-la vazia de pensamentos, o que é extremamente difícil, pois vivemos numa sociedade onde se encoraja o ritmo frenético, tentamos fazer sempre muitas coisas ao mesmo tempo.
O segredo é não nos deixarmos levar nos pensamentos que surgem na nossa mente, contemplá-los e deixá-los partir como uma nuvem, mas sem viajarmos nela nem tecermos juízos de valor.
Seja o almoço que temos de preparar para amanhã, o email ou telefonema que temos de fazer, tudo isso tem de sumir, pois neste momento estamos num mundo à parte, dedicando toda a nossa atenção a nós mesmo sem interferência exterior. Pelo menos é disto que nos temos de convencer.
Fica mais fácil se nos concentrarmos na respiração, observarmos o ar a entrar, a ser retido, a sair, etc...
Distrairmo-nos é normal, sermos levados na tal nuvem será tema recorrente, mas constatar isso é bom sinal, significa que nos estamos a esforçar para focar, temos de simplesmente nos dominar e voltar ao início.
Esta resistência é sinal que pelo menos durante uns segundos mantivemos o foco e esse tempo irá aumentar...conseguiremos com a prática frequente aumentar esse tempo para muitos segundos ou poucos minutos passados numa calma concentração e desta querela vai nascer maior capacidade de foco e resistência em momentos de stress, onde mais facilmente conseguiremos dominar as nossas emoções ou não ser completamente tomados por elas.
O treino tem de ser frequente e não precisa de ser exaustivo, 5 minutos por dia ao acordar ou antes de dormir, ou nos dois momentos. Com o tempo apanhamos o gosto e procuramos fazê-lo mais vezes por mais tempo.
Pessoalmente gosto de fazer um sessão de Ioga de 45 minutos e no final fazer mais 10 minutos de meditação.
O Ioga como que prepara a mente e o corpo para receber a tranquilidade da meditação. 
Os dois juntos deixam-me no céu.
Quando estamos a passar por um momento especialmente tenso ou angustiante fica quase impossível meditar, a concentração é zero porque estamos afligidos e a mente está sempre a recordar-nos do que nos está a molestar, tentamos pô-lo em segundo plano mas é difícil.
Mais importante se torna tentar meditar nestes momentos, poderá parecer infrutífero mas é aqui que se colhem os melhores frutos, 5 segundos de foco num momento aflitivo valem por 5 minutos inteiros num momento tranquilo porque o esforço empregue é muito maior.
Qualquer pessoa será capaz de meditar e ser ''Zen'' num momento em que tudo lhe corre de feição certo? É na adversidade que se põe à prova a nossa capacidade de concentração e o domínio que temos (ou não temos) sobre as nossas emoções e processos mentais.
Muito mais poderia ser dito do Ioga, uma tradição e disciplina milenar que contiua a evoluir à medida que cada aluno lhe acrescenta algo e se formam várias ''escolas'' com diferentes maneiras de encarar a tradição.
No entanto considero estes aspectos como sendo básicos e inegáveis, mas tudo o que estiver relacionado com o bem estar físico, mental, psicológico ou busca espiritual é susceptível de ser assimilado no Ioga.