Índice Glicémico (IG) ou Carga Glicémica (CG)?

Vamos desvendar o mistério por detrás do Índice Glicémico. Este termo tem sido alvo de má interpretação que tem levado as pessoas a fazerem dietas pouco adequadas ao objetivo que procuram, o emagrecimento que na minha óptica se traduz em perda de gordura e não necessariamente perda de peso.
Vamos fazer justiça a este conceito e perceber a sua correta aplicação.
Comecemos pelas habituas definições:
  • Os carboidratos são um macronutriente constituído por várias moléculas de glicose, numa estrutura de menor ou maior complexidade consoante o alimento observado, 
  • Após digeridos são decompostos na sua molécula mais simples (glicose), a sua absorção dá-se a diferentes velocidades, dependendo do alimento de onde provêm,  
  • Quanto mais rápida for a sua absorção, maior será o pico de libertação de insulina pelo pâncreas, com o objetivo de baixar (equilibrar) os níveis de açúcar no sangue, 
  • A hormona insulina tem a função de sinalizar o transporte da glicose para utilização imediata (criando energia), ou para ser reencaminhada para o fígado (transformação e armazenamento),  
  • O armazenamento pode-se dar sobre a forma de glicogénio nos músculos, mas a partir de certo limite o excesso de glicose no sangue é convertido em ácidos gordos e triglicerídeos (no fígado), que serão encaminhados para armazenamento no tecido adiposo (gordura corporal),
Índice glicémico (IG) é um factor que diferencia os alimentos de acordo com a quantidade de moléculas de glicose presentes em cada um. A escala do índice glicémico (indicada em percentagens), baseia-se na ingestão do pão branco como comida padrão, assumindo este o IG igual a 100. Há também quem tome a glicose como valor de referência (100) por ser a substância com IG mais elevado.
São considerados de baixo valor glicémico os alimentos que não estimulam grandes picos de insulina. Classificação:

Índice Glicémico (IG)
Classificação
Menor que 50
Baixo
Entre 50 e 69
Moderado
Maior que 70
Alto
O Índice Glicémico (IG) mede a velocidade a que estes carboidratos são absorvidos:
  • Quanto maior for o índice, mais rápida a decomposição e posterior libertação das moléculas de glicose no sangue e maior o estímulo de libertação da hormona insulina, 
  • Com a maior libertação de insulina resulta um pico acentuado da mesma que origina uma absorção mais massiva da glicose, que resultará no seu armazenamento (transformação em gordura e posterior armazenamento).
No caminho que vai desde a decomposição dos carboidratos em moléculas de glicose à libertação de insulina para sua absorção e encaminhamento, muita coisa pode acontecer:
  • Se eu comer um prato de arroz e feijão e a seguir fizer um treino intenso, o meu corpo absorverá os carboidratos decompondo-os em glicose, mas não os irá transformar e armazenar sobre a forma de gordura, pois entretanto estes serão solicitados e utilizados na produção de energia do treino, 
  • Se eu comer o mesmo prato mas a seguir sentar-me no sofá a ver novelas o meu corpo absorverá os carboidratos decompondo-os em glicose e provavelmente irá armazená-los sobre a forma de gordura (triglicerídeos)  
  • No entanto é preciso observar aqui a regra de ouro, pois vários factores entram em jogo e subjectivam este processo: os resultados encontrados com o mesmo procedimento podem variar de pessoa para pessoa consoante a sua idade, género, estado de saúde nutricional/mineral e vitamínico, historial de actividade física, genética (metabolismo e biotipo), exposição ao stress emocional/químico/ térmico e de estilo de vida, bem como da sua atitude mental.
Mas ignorando a influência de outros factores (Ceteris Paribus/se tudo o resto se mantiver constante), a teoria leva-nos a crer que:
  • Se comermos alimentos com baixos IG’s (menor ou igual a 50), então não teremos uma grande libertação de insulina e menor a probabilidade de conversão destas moléculas de glicose em gordura. Infelizmente a libertação da hormona insulina não é assim tão linear e não é só a qualidade dos alimentos que ingerimos que a afecta, mas também a quantidade, 
  • Posso comer um alimento com baixo IG, mas se o fizer em grandes quantidades ocorrerá na mesma uma libertação massiva de insulina e de todo o processo descrito anteriormente. 
Observar o IG por si só não chega, por isso existe uma medida que junta a qualidade e a quantidade, a Carga Glicémica (CG).
Esta consiste num sistema de medição do conteúdo de carboidratos numa dada porção de alimento, baseando-se no índice glicémico (IG) e na quantidade dessa porção. 
Vamos comparar um alimento de baixo IG com um de alto IG para percebermos isto melhor:
  • A melancia que tem um IG de 72 (elevado) e o amendoim tem um IG de 20 (baixo), 
  • Se tivermos de escolher entre comer 300g de um alimento e o nosso objetivo for perder gordura, baseando-nos no IG escolheremos o amendoim, pensando que estaremos a fazer a melhor escolha,  
  • Não estamos a fazer a melhor escolha porque por cada 300g o amendoim tem 120g de carboidratos (40%), e a melancia tem 32g (8%).
Embora os carboidratos da melancia seja de absorção rápida (alto IG), como ela é praticamente só composta por água, a sua quantidade de açúcares é mínima. O amendoim tem quase metade da sua composição em carboidratos que apesar de lenta absorção, em grande concentração é suficiente para estimular a produção massiva de insulina. Experimentem comer muitos amendoins regularmente e vejam o que vos acontece.
Percebem onde quero chegar?
Muitas pessoas falam da batata doce, que é muito boa para as dietas, mas embora ela tenha um índice glicémico mais baixo que a batata normal, tem maior concentração de carboidratos, ao ponto de a sua CG ser quase igual à da batata comum, em termos práticos o resultado é o mesmo.
A fórmula para calcular a CG é a seguinte:

 
Vamos fazer umas contas com as batatas: 
  • A batata doce tem um IG de 44 e por cada 100g tem 30,3g de carboidratos. Fazendo as contas (44 * 30,3 / 100 = 13,33) temos uma CG de 13,33 
  • A batata normal tem um IG de 70 e por cada 100g tem 20g de carboidratos. Fazendo as contas (70 * 20 / 100 = 14) temos uma CG de 14.
A conclusão é que tanto a batata doce como a batata comum não são as melhoras escolhas para uma dieta que ambicione o emagrecimento.
Vamos classificar o CG:

Carga Glicémica (CG)
Classificação
Menor que 10
Baixo
Entre 11 e 19
Moderado
Maior que 20
Alto
Terei eu de me preocupar com estes cálculos para ter uma vida saudável e me sentir bem?
Não necessariamente...estes tipos de indicadores são muito úteis para quem procura resultados na esfera da saúde e do bem estar físico e àqueles que se dedicam de coração e procuram uma dieta (e/ou treino) que faça mudar a sua aparência. 
Os praticantes de modalidades que envolvam categorias de peso (desportos de combate, etc) são outras pessoas que beneficiam de um mais completo conhecimento na área de nutrição/metabolismo. Na necessidade de descer ou manter uma categoria de peso, é de extrema importância a informação deste post, pois se trocarmos alimentos como a batata e o arroz (alta CG) por brócolos, nozes, etc (baixa CG), conseguimos obter a energia que necessitamos, os nutrientes que o corpo pede e ainda reduzir o peso corporal (mantendo tudo o resto constante).
E embora não seja estritamente necessário decorar nomes, números e índices, toda a gente deveria (para seu próprio bem) saber o que come e que reacções se desencadeiam no seu organismo com os diversos tipos de alimentos, bem como conseguir identificar quais são os alimentos com elevada CG, pois abusar deles poderá trazer complicações a médio-longo prazo.
É importante reter que se deve preferir alimentos com menor carga glicémica na maior parte das refeições e isto é mais verdadeiro quanto mais sedentária for a nossa vida.
Experimentem trocar os cereais e leguminosas (batatas, pão, massas, arroz, feijão, aveia) por vegetais ou frutos secos (brócolos, beringelas, curgetes, alface, cenoura, tomate, pimento, nozes, amêndoas, avelãs) e vejam o que acontece... experimentem nas refeições que fizerem com alimentos de alta CG usarem cereais integrais em vez de refinados...
Perceberam porque o IG é um indicador que nos pode deixar cair em erro e ter o resultado contrário ao desejado? Em baixo deixo uma tabela ilustrativa de alguns alimentos, para fácil orientação.
Em jeito de conclusão quero só referir que toda a regra tem a sua exceção e estes indicadores não são diferentes. Existe um alimento que contraria esta regra e estas reacções químicas no nosso organismo.

É o leite e os seus derivados que devido à sua especial combinação de aminoácidos estimulam a produção de insulina como mais nenhum alimento, mesmo tendo uma baixa CG.
Temos de nos lembrar que o leite foi criado pela mãe natureza com um único objetivo...fazer crescer...e para crescer precisamos da hormona insulina que ajuda a levar não só as moléculas de glicose, mas também os aminoácidos aos tecidos, permitindo assim o processo de anabolismo. Portanto estas tabelas não se aplicam ao leite e seus derivados.
Quem quer perder gordura, volume, peso, etc tem que necessariamente se afastar do leite e seus derivados... 

Alimentos
IG
%
CG
Vegetais e Tubérculos
Alface
Pimento
Cogumelos
Cebola
Bróculos
Abóbora
Tomate
Cenoura
Ervilhas
Beterrabas
Batata doce
Mandioca
Batata
-
10
10
10
10
10
75
38
49
48
64
44
46
70
-
0,8
2,7
3
3,8
4,4
1,7
4,3
6,4
10,8
9
30,3
30,1
20
-
0,08
0,27
0,3
0,38
0,44
1,28
1,63
3,14
5,18
5,76
13,33
13,85
14
Frutas
Ameixa
Morango
Pêssego
Pêra
Laranja
Maçã
Kiwi
Uva
Banana
Manga
-
24
40
28
33
48
39
58
43
51
16,7
-
8
5,3
9,2
9
10,2
13
11,5
17
20,5
80
-
1,92
2,12
2,58
2,97
4,9
5,07
6,67
7,31
10,46
13,36
Lacticínios
Iogurte
Leite gordo
-
30
40
-
4,3
4,6
-
1,29
1,84
Cereais
Esparguete integral
Quinoa
Pão integral
Milho
Flocos de aveia
Cuscuz
Arroz integral
-
40
35
70
60
55
65
79
-
27
72
49,9
60
67,1
77
84
-
10,8
25,2
34,93
36
36,91
50,05
66,36
Leguminosas
Lentilhas
Feijão
Grão de Bico
-
29
48
31
-
16,3
12,2
27,4
-
4,73
5,86
8,5
Frutos secos e Sementes
Chia
Noz
Pevide de abóbora
Avelã
Amêndoa
Girassol
Linhaça
Cajú
Amendoim
-
10
15
10
15
15
10
10
22
20
-
7,33
5
10
8,4
9
18,7
26,6
32,7
44
-
0,74
0,75
1
1,26
1,35
1,87
2,66
7,2
8,8